segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Yojimbo e Algumas Kurosawices


O ano é 1860, a época do “isolamento” do Japão estava no fim. O clã Tokugawa estava perdendo o poder e a sociedade se voltava aos moldes do Império. Foram décadas de choque cultural entre o feudalismo japonês e o capitalismo ocidental, que estava ganhando espaço. Como diz um personagem de Yojimbo, já no começo do filme, é um momento em que “todos querem dinheiro fácil”.

É neste clima que entra Sanjuro Tsubaki, um samurai que trabalhou para a Realeza agora decaída. Sem destino, na cena mais tanto-faz que já vi, ele joga um galho para o alto e segue na direção onde a ponta dele aponta (pãã).

Ao chegar na cidade, Sanjuro a encontra dividida entre duas facções que lutam para a dominar: uma é controlada pelo mercador de saquê e liderada por Ushitora, a outra é controlada pelo mercador de seda e liderada por Seibei.

Brincando com os dois lados, ele ora oferece seus serviços para um, ora para outro, ora a nenhum, com a única intenção de fazer a cidade ferver ainda mais (e claro, ganhar uma graninha deles com favores e ameaças), para que ambos os lados se matem e a paz se restabeleça.


Sanjuro faz a linha samurai solitário, meio anti-herói, amoral, iconoclasta e manipulador: chega a dirigir o filme junto com Kurosawa, criando intrigas ao seu bel-prazer. Seu humor é cínico e há também certa dose de humanismo. Ele une o útil ao agradável.


O filme discute, entre outras coisas, o conflito dos valores:

feudalismo x capitalismo;
rural x urbano;
família x facção;
espada x arma de fogo;
honra x corrupção.

Vale a pena assistir, há muitas cenas memoráveis que misturam a luta de sabre e o famoso bang bang norte-americano, talvez representando esta dualidade entre o Japão feudal e o capitalismo ocidental, nada acidental, creio.

Se quiserem mais referências, Kill Bill, Os Selvagens da Noite, Por um Punhado de Dólares, O Último Matador, Star Wars e até mesmo Cidade de Deus possuem elementos e cenas inspiradas, direta ou indiretamente neste filme.

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