terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mídia, Hipocrisia, Ética e o Acriticismo Contemporâneo

Primeiro de tudo, quero deixar claro que este texto não tem como princípio a defesa de valores sócio-ideológicos. Não é um manifesto comunista ou esquerdista. No máximo. pode ser considerado um manifesto jornalístico. Então, tentem entender a essência real da informação.

Estamos todos acompanhando a revolução que está ocorrendo no Egito. Alguns acham a situação horrível, mas temos que entender que é o povo quem está falando contra a opressão de uma ditadura. Se muitos estão morrendo, podem apostar que as mortes poderiam se evitadas se este mesmo governo, escutasse o seu povo. O que claramente, não é a função daquela ditadura.
Quero focar na palavra ditadura. Eu, uma pessoa que ainda não exerce a função de um jornalista e dependo ainda muito do que a mídia me oferece, desconhecia que nesses países do oriente, ainda existiam ditaduras. E aposto que muitos de vocês que acompanham a grande mídia, também desconheciam esse fato. Enquanto algumas ditaduras estão sempre nos holofotes, como Cuba e Venezuela, outras estão omitidas. E por que? Não é toda ditadura um atentado aos direitos humanos e à liberdade? Não deveria toda ditadura ser combatida e denunciada mundo afora? Por quais motivos, então, os governos da Tunísia e Egito, eram silenciosos, se depois dos movimentos populares, apareceram como ditaduras?


Bom, com esta duvida na minha cabeça, tentei chegar à uma resposta para essa pequena falha da imprensa brasileira. Grande surpresa a minha, quando na própria grande mídia, encontrei a resposta, quando vi o discurso do presidente dos E.U.A, Barack Obama, dizer que apesar dos conflitos, não retiraria o investimento de bilhões que os americanos injetavam na ditadura do Egito. O mesmo governo que espanca Fidel Castro e Hugo Chavez com seus discursos de liberdade, é o mesmo que investe em um governo ditatorial.
Como sabemos, a maior emissora pública do nosso país, recebe capital direto de empresas da América do Norte e então, fica claro o seu posicionamento diante os acontecimentos mundiais.
Fazendo esta análise, podemos chegar à conclusão de que os grandes alardes quanto aos regimes de Cuba e Venezuela, não passam de velhas perseguições políticas da época da Guerra Fria. Pelo simples fato dos dois governos serem de esquerda, há uma fome de destruição e manchação de imagem. Novamente, isto não é uma defesa à estes governos que também praticam atos pouco morais, segundo as informações que temos. Mas e agora? Como podemos aceitar as informações da grande mídia que sempre demoniza Castro e Chávez, mas ao mesmo tempo endossa outros governos tanto quanto ou mais cruéis que os governos latinos?


É claro que existem os interesses econômicos e as cartilhas de cada órgão de imprensa, mas isso deveria superar o papel do jornalista de informar, denunciar e opinar diante dos fatos? E quanto a responsabilidade ética com o público medíocre (sem pejorativos, por favor)?
Para mim, no mínimo isso causaria uma certa desconfiança com o emissor da notícia. Bom, mas isso eu já tenho com a grande mídia faz tempo. Também não estou dizendo que não se deve noticiar o acontecido, mas não quer dizer que devemos valorizar totalmente o que se diz. Dizer que o Egito está um caos, não basta. Era preciso, como jornalista, explicar exatamente o que acontece e acompanhar as truculências que foram cometidas àquele povo. Mas vão me dizer, que esse é o papel da impressa egípcia. Ok, então, que tal a imprensa brasileira parar de cobrir os "atentados à liberdade" nos países latinos?


Para terminar, gostaria de dizer que está em nossas mãos manter uma postura ética contundente perante o que nos é dado. O acriticismo vem crescendo conforme o passar dos anos, estamos opinando menos, valorizando nossos interesses infantis cada vez mais. E isso é exatamente o que os donos do mundo querem de vocês. A não ser que você sinta-se seduzido por uma cadeira no topo do mundo, comece a ser mais crítico e não tenha medo de desagradar.

Por hoje é isso, obrigado por lerem.
Até a próxima!

2 comentários:

  1. O dia já vale a pena quando lemos algo assim. Uma pena que a maioria da "massa de manobra" não enxergue algo tão óbvio assim... Belo texto.

    ResponderExcluir
  2. A Grande Mídia aparentemente tem um conceito muito bem formado de Boa Ditadura e Má Ditadura. Você sabe o que quero dizer, e o seu texto expressa todos os outros pormenores. O Mundo Árabe está se rebelando (e, tenho esperança, se libertando) enquanto os nossos jornais continuam a maquiar inescrupulosamente o contexto da história que está se formando. Reforço a opinião do grande Ander: belo texto.

    ResponderExcluir