segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Resenha - O Vencedor


Antes de começar a crítica, é importante fazer uma comparação. Não faz muito tempo que decidi fazer críticas de filmes e algo, que talvez não seja novidade para os mais experientes, me chamou atenção. Minha primeira crítica de Cisne Negro inevitavelmente voltou-se para o lado visual do filme que realmente acaba roubando o brilho das atuações e do enredo. Neste O Vencedor (The Fighter), o foco é totalmente nas relações e nas atuações. É gratificante sentir essa diferença.

Enfim, vamos à crítica.

Não sou conhecedor da direção de David O. Russel (Huckabees, Três Reis) sendo esse o seu primeiro longa que assisto. O filme é baseado em fatos reais e tem como ponto de partida a história de Micky Ward (Mark Wahlberg), um boxeador "trampolim", que apenas serve para aumentar as vitórias no currículo de outros mais bem preparados e patrocinados. A razão para Micky continuar num ciclo vicioso de lutas fracassadas encontra-se, ironicamente, onde deveria ser bem cuidado: sua família. O meio-irmão do boxeador é Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-boxeador que vive de uma queda que fez em Sugar Ray Leonard, famoso boxeador. Eklund, perdeu a luta, mas ficou famoso por derrubar um lutador consagrado. Em sua cidade, ele é chamado de "O Orgulho de Lowell". Porém, a carreira de Dicky foi curta e ele acabou se viciando em crack. Porém, ele é a maior inspiração de seu irmão "trampolim", que ama o esporte.

O filme é uma cine-biografia, porém David O Russell tenta aproximar-se o máximo que pode de um realismo, mas sem esquecer do drama. Para isso, ele insere dentro do drama, a construção de um documentário. É um tempero a mais na verossimilhança. Pelo que percebi, David O. Russell, também gosta de brincar com contradições, como a cena da limousine.

Mas o que fica mesmo são as atuações de todos os envolvidos. Sim, todos, até os mais coadjuvantes. Christian Bale está excepcional como o excêntrico Dicky e assusta, ao começarem os créditos que mostram o real Dicky, o quanto ele pegou dos traços. Não há Christian Bale no filme, há Dicky Eklund. Provavelmente e com justiça, levará a estatueta.

Até hoje, havia apenas assistido Amy Adams em comédias (Prenda-me Se For Capaz e Encantada) e sua beleza inocente e frágil. Mas aqui, ela é Charlotte. Uma mulher de força, que não se intimida nem por uma legião de conservadoras do Tea Party. Uma mulher que já passou por poucas e boas, mas que está disposta a mudar. E Amy convence.


Porém, a atuação de Melissa Leo como Alice, a mãe quase feudal de Micky e Dicky, é de roubar a cena em muitos momentos. Uma personagens que tem todos os motivos para ser odiada, de ser a vilã. Mas Melissa não nos permite e passa uma humanidade e quase inocência nas atitudes da mãe. Impossível odia-la, possível compreende-la.

Incrivelmente, não achei que um dia escreveria isso, mas todas as atuações conseguem se mostrar graças à Mark Wahlberg. Não sou fã de seu trabalho, mas dessa vez, Walhberg ganhou méritos. Assim como ele é o "trampolim" dos boxeadores, Wahlberg fez de Micky o trampolim de sua família. Ele apanha de todos, quase sem reclamar. E no final, é ele quem acaba por mostrar que temos que deixar de lado os defeitos, os males, as intenções, os egoísmos de lado e que só assim, tudo que todos desejam, seria alcançado. Tímido e humano, Micky é o catalisador de todo o enredo.

Algo que notei, que pode desviar um pouco a atenção do espectador, são as famigeradas e enjoativas cenas de luta. É algo que cansamos de ver em Rocky e seus filhos. Apenas uma tomada das lutas que achei interessante, quando Micky recebe uma sequência de golpes, porém não temos a intensidade da imagem. Impulsivamente, me descolei da cadeira nesta cena procurando, literalmente, os golpes, como uma vizinha curiosa com a desgraça alheia. A narração e as expressões de sua equipe, é que moldam a dor. Empatia.

É um filme justo. Respeita o espectador ao não melodramatizar uma história real, mas sabe utilizar do drama para instiga-lo a entender os acontecimentos. As atuações mereceram no mínimo as indicações e algumas delas, merecem o reconhecimento da academia. Mas essa ainda brinca de "trampolim" para o ultrapassado.

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