quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Justiça é Cega...e Caveira

A sinopse é épica. Bombeiros vândalos e terroristas invadem o Quartel Central do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Lá, fazem bombeiros justos, mulheres e até crianças como reféns. Armados perigosamente com marretas, os terroristas demandam que o governo libere um aumento absurdo nos salários da classe, que já ganha generosos R$ 950,00, dinheiro público que poderia ser investido em mais estádios para a Copa do Mundo. Indignado com a atitude dos criminosos, o Senhor Governador Sérgio Cabral, envia os heróis do Rio de Janeiro. A tropa de elite, capaz de lidar com as situações mais perigosas e tensas. Quando a solução é a força, a sociedade recorre ao BOPE.

Parece o roteiro de um vindouro Tropa de Elite 3. Talvez foi assim que trabalhou a mente de Sérgio Cabral, ou foi isso que ele tentou demonstrar, ao ficar sabendo da situação que ocorreu entre os dias três e quatro desse mês. Mas minha análise vai um pouco mais a fundo nessa questão. É engraçado ver como o BOPE (Batalhão de Operações Especiais), que serve ao poder público, além de ter se tornado um argumento eleitoreiro por parte do governo do RJ, agora serve de contexto para ilegitimar a luta justa de trabalhadores. Isso não é culpa dos soldados da corporação militar, já muito bem retratados nos filmes de José Padilha. Eles acreditam que fazem o bem. O problema é a administração governamental por trás da corporação.

Força Policial e os Bombeiros "vândalos"

Para quem não sabe, um grupo de mais de 400 bombeiros invadiu há uma semana e meia o Quartel Central, no centro da cidade do Rio de Janeiro para reivindicar melhorias salariais na classe. Para reprimir o motim, a cadeira de segurança do governo do estado, enviou o BOPE. Sim, os bombeiros cometeram o crime de motim previsto pelas leis militares. Tenho certeza que eles sabiam disso. Mas isso pode tirar as justificativas levantadas pela classe? Esse ato extremo, com certeza se deu depois de tentativas de diálogos falhos com os representantes. Nada justificaria o ato dos bombeiros? Discordo. Eles fizeram sua voz arder nos ouvidos do estado. Ironicamente, logo depois do "motim", o governo anuncia um reajuste salarial para a classe dos bombeiros. Acham mesmo que se não houvesse o alarde, esse reajuste seria feito? O ato foi longe de ser legal perante a lei, mas isso o transforma em ato anti-ético? É de se pensar. É de pensar também pelo fato de Cabral chorar por causa de royalties de petróleo, ao mesmo tempo que não sente empatia pelo "choro" dos bombeiros.

Mas o que a administração do BOPE tem a ver com isso? Simples. Cabral utiliza-se dessa carta na manga para "sujar" atos justos que possam prejudicar o seu governo. O BOPE virou sinônimo da luta contra o crime e de justiça. Uma corporação formada por incorruptíveis, que são treinados para uma guerra contra o "mal" generalizado da cidade. A imagem da Polícia Militar do estado, ficou muito manchada por conta do sucesso de Tropa de Elite 2 e a corporação "caveira" virou coqueluche nacional. A ação seria muito questionável, segundo a lógica de Cabral, caso a PM tomasse conta da situação. Porém o tiro parece ter saído pela culatra. A entrada do BOPE com armas letais no Quartel, onde as esposas e filhos dos manifestantes se encontravam (e quem disser que isso foi pensado como "escudo" na manifestação, favor pensar antes de falar), foi exposta por vários veículos de comunicação. Cabral foi no mínimo um tanto ingênuo na sua atitude, pois não contava com a repercussão negativa do ato.

Sérgio Cabral ou Sérgio Mobral?

Não sejamos ingênuos também em achar que Folha, Globo, Estadão e outros, fizeram esse "bem social" de informar em detalhes a ação por bondade. Sabemos que Cabral faz parte da base aliada da presidente Dilma e que tais veículos não simpatizam com o PT, sendo um deles de forma declarada. Não sou petista, mas sou estudante de jornalismo e essa prática de cutucar sutilmente aqueles que não agradam, é um tanto hipócrita.

A questão é que nós como cidadãos e os mais de 10 milhões que assistiram Tropa de Elite 2 sabemos (ou deveríamos saber) que o BOPE é uma entidade necessária atualmente, mas que surgiu do descaso do estado com a infraestrutura pública. É um fator reativo e muito específico. O BOPE não pode ser usado como propaganda eleitoral, nem como símbolo da justiça. Ações como a dos bombeiros, se resolvem no diálogo e poderiam ter sido evitadas caso houvesse uma comunicação justa e transparente entre as partes envolvidas.

Capitão Nascimento, símbolo do BOPE

Como diz o bordão do BOPE, "Missão dada é missão cumprida". A pergunta que fica é: Quem dá a missão?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Magneto - Testamento

X-Men: Primeira Classe chegou aos cinemas faz uma semana. Um dos pontos altos do longa é a trama que envolve o jovem Erik Lehnsherr em sua busca por vingança. Muita gente deve ter saído do cinema tocado pela história triste, que envolvia o nazismo e sua caça aos judeus. Como todo mundo sabe, X-Men surgiu nos quadrinhos e as histórias no cinema são adaptações. Para quem sentir curiosidade, a Panini lançou ano passado o encadernado Magneto Testamento, uma história fechada que nos leva à infância de Max Eisenhardt, o nome de batismo do Magneto dos quadrinhos.

Capa Brasileira
A história é bem construída. O "problema" talvez seja criar uma personalidade dócil ao futuro maior vilão mutante. A família de Max é muito boa uns com os outros, sua criação é bem saudável. Fica muito difícil acreditar no enorme desvio de caráter que transformará Max em Magneto. No mínimo, a guerra e toda a tragédia que viveu nos campos de concentração, deixariam o jovem reprimido. Talvez a descoberta de seu poder pode ter mudado tudo.

No mais, é uma bela história e os desenhos de Carmine Di Giandomenico são únicos. O traço pode estranhar no começo por sua simplicidade, mas depois acostuma-se. A maior virtude do desenhista é a dinâmica nas cenas de ação. Tudo parece realmente mover-se como na cena em que Max arremessa uma lança, de ponta de ferro, mais longe que seus colegas de classe. Aliás, é sútil como o autor, Greg Pak, consegue demonstrar a inocência de todos que não percebem o poder mutante de Max. Seu pai diz que o filho tem olhos aguçados. E a medida em que fica mais claro a utilidade dos poderes do jovem Magneto na trama, achamos que eles serão cruciais em momentos angustiantes. Greg Pak caminha o leitor, mas o surpreende de forma gratificante.

A influência de uma das maiores HQ's da história é nítida no roteiro de Pak e também na arte de Giandomenico. Maus está ali, em quase todas as cenas, principalmente quando somos levados à Auschwitz. Não que a HQ tente copiar a obra prima de Art Spiegelman, mas a toma como base, pois os relatos em Maus são os mais verídicos retratados em quadrinhos.




Magneto Testamento não é uma obra prima, mas para os fãs de quadrinhos é uma visão a mais do universo e do passado de um dos maiores vilões (ou não) das HQs.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estado Laico Segundo as Leis de Deus

É interessante notar, como muitas pessoas acham que a República Federativa do Brasil, mais precisamente sua constituição, foi criada de acordo com as leis de Deus. O pior disso, é saber que as pessoas que têm o poder, estão levando tais convicções para dentro de onde deveriam deixa-las de lado. Bolsonaros estão por toda parte e usam e abusam de frases do tipo: "Graças à Deus" "A vontade de Deus" "O senhor Jesus" como argumentos para suas decisões políticas.

Charge de Cau Gomez

Todos fomos surpreendidos no começo do mês passado quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, ou união homoafetiva. Isso foi uma vitória para uma classe tão reprimida na nossa chamada "democracia". Ainda estamos longe de uma nação livre de preconceitos e homofobia, mas este foi um passo muito importante para caminharmos à uma plena democracia (algo que acredito ser quase impossível numa sociedade capitalista, mas tudo bem, estamos tentando ao menos).

Porém, não foi surpresa alguma quando nos deparamos com o contra-ataque de pessoas que não eram a favor de tal direito. Tais pessoas não escondem que seus argumentos são baseados nas leis de Deus, ou seja, são argumentos de base religiosa. Ok, todos têm direito de escolher o caminho que quiser e suas convicções sobre o mundo. Mas o que pouquíssimas pessoas entendem, é que o Brasil é um estado laico. "Mas Melchior, o que significa isso?". Se você realmente não sabe, explico:

Num Estado Laico, o governo NÃO apoia e NÃO se opõe também à questões religiosas, sendo essas para serem tratadas separadamente. Ou seja, não é possível que o governo leve em consideração argumentos religiosos para realizar suas leis. Tais leis também, não podem favorecer qualquer religião. E quando se diz que o estado não se opõe à qualquer religião, isso não quer dizer que ele deve aceitar toda e qualquer reivindicação religiosa.

Pois bem, ao menos o Supremo não levou em conta esses argumentos certo? Bom, não tá sendo bem assim. Ocorre que existe um projeto de lei andando pelo congresso que visa sustar (anular) a união homoafetiva. O Projeto foi criado pelo deputado João Campos de Araújo (PSDB/GO). Porém, como homem da lei (em duas instâncias, pois além de deputado, Araújo é delegado de polícia) o deputado obviamente não poderia fazer esse projeto baseado claramente em questões religiosas. O ponto que o projeto se baseia é de que a Constituição brasileira é clara ao definir a união estável, expressamente entre um homem e uma mulher. Sim, realmente a Constituição define isso. Mas não é essa mesma Constituição que diz no Artigo 3°, item III que a República Federativa do Brasil tem como objetivo fundamental erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais? Ora, a lei de união homoafetiva se inclui aqui! Enquanto isso emendas constitucionais são feitas cada vez para aumentar a pobreza, a marginalização, aumentar as desigualdades sociais. A nossa Constituição é atrasada e foi feita por mãos quase tão vis quanto àquelas da Ditadura. Quando utilizamos desse artifício da emenda para caráter democrático real alguém tenta, usando o mesmo argumento que a valida, invalida-la. E o pior, isso é aceito. No fundo, o deputado esta se baseando em fundamento religioso e fingindo não ver que a constituição não é de Deus. Não foi escrita por Ele. É no mínimo curioso o fato de que o deputado Araújo saiu em carreata junto com outro candidato a deputado estadual, o Pastor Elismar Veiga.

Outdoor do Pastor Silas Malafaia, um dos maiores críticos ao homossexualismo

Enfim, está rolando uma enquete* agora na página oficial da Câmara dos Deputados. Nela, pergunta-se a nós, cidadãos do estado laico, o seguinte:

"Você concorda com o projeto (PDC 224/11) que susta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer a união homoafetiva?"

São duas respostas possíveis:

"Sim, porque a Constituição é clara ao definir a união estável, a entidade familiar expressamente entre um homem e uma mulher."

"Não, porque com o reconhecimento da união estável os casais do mesmo sexo passam a ter direito a herança, pensão alimentícia e benefícios previdenciários."

Lamentavelmente, o SIM está ganhando. Não sabemos se essa enquete muda alguma coisa, mas pelo menos temos algo a nosso alcance que podemos fazer. Eu já fiz minha parte, independente de religião, orientação sexual ou visões filosóficas. Fiz baseando-me no que nossa própria nação prega: democracia, laicismo, proteção à vida e outras coisas mais.





* A enquete foi encerrada no dia 10, um dia depois da publicação desse post e o SIM venceu (55% contra 45% do NÃO)



terça-feira, 7 de junho de 2011

Promoção Castro

Pessoal, lembram da HQ Castro cujo review você leu com exclusividade aqui? A Editora 8INVERSO vai sortear mais dois exemplares da revista. Se você se interessou, é só fazer o seguinte:

Seguir a @8INVERSO no Twitter e retuitar a mensagem abaixo. Ao atingirmos a marca de 1.000 seguidores, sortearemos os livros e enviaremos gratuitamente. A mensagem a ser retuitada é:

Sigo a @8INVERSO, dei RT nesta mensagem e concorro ao sorteio de exemplares da #HQ CASTRO se a editora atingir mil seguidores!

Boa oportunidade galera. Aproveitem aí!

domingo, 5 de junho de 2011

X-Men: Primeira Classe

Juro que eu temia muito por esse filme, depois dos decepcionantes X-Men 3 e X-Men Origens: Wolverine. Quando o elenco e personagens começaram a se formar fiquei mais preocupado ainda (Zoe Kravitz como a mutante Angel? Um cara pra suprir a ausência do Noturno?). Sério, esse filme tinha tudo para ser ruim. Nem o bom diretor Matthew Vaughn (Kick-Ass) parecia que ajudaria. Apenas um detalhe me confortava: Bryan Singer, diretor dos dois primeiros filmes, estava na produção. Bom, o resultado catapultou meu pessimismo la pra Krypton e queimei a língua.



O filme retoma a cena inicial de X-Men - O Filme, em que um jovem Erik Lensherr no campo de concentração e separado dos pais, demonstra pela primeira vez seu poder de magnetismo. Isso atrai a atenção de Dr. Schmidt/Sebastian Shaw (Kevin Bacon) que vai usar Erik para experimentos. No futuro, Erik busca vingança contra Shaw e isso o fará cruzar seu caminho com um jovem Charles Xavier e a CIA, que querem deter um plano megalomaníaco, que inclui a crise dos mísseis em Cuba, do líder do Clube do Inferno.

Os personagens estão muito bem construídos. James McAvoy como o jovem Xavier consegue passar a imagem de um homem cheio de vida (galante e divertido), mas que ao mesmo tempo tem um norte que lhe toma toda a atenção: a pesquisa sobre sua condição de mutante. Temos neste filme uma grande ênfase em Mística que nos dois primeiros filmes foi interpretada por Rebeca Romijn Santos (fazendo um cameo muito bacana), mas que tinha poucas falas, porém presença marcante. Aqui ela é interpretada por Jennifer Lawrence (Inverno da Alma) como uma adolescente naquela fase de aceitação, mas o caso dela é bem mais peculiar. Michael Fassbender (Bastardos Inglórios) como Magneto, não poderia ter sido escolha melhor. O ódio é nítido em seu olhar durante boa parte do filme, mas Fassbender consegue alternar muito bem para olhares mais fraternos quando necessário. Nicholas Hoult, o (até então) eterno Marcus de Um Grande Garoto faz um Hank McCoy muito competente. Grande, desengonçado, tímido. Um nerd como o próprio Hank na juventude deveria ser. Caleb Jones e Lucas Till fazem respectivamente Banshee e Destrutor, não com tanto destaque quanto os já citados. Destrutor, é Alex Summers. Sim, se você notou que o sobrenome é familiar, está correto. Nos quadrinhos ele é o irmão mais novo de Scott Summers, mais conhecido como Ciclope. Porém o filme não cita qualquer ligação entre os dois. Falha? Provavelmente sim se não fizerem uma sequência que explique melhor essa ligação.


A história é muito bem construída, sem grandes furos, só aqueles pequenos permitidos. Um ponto no mínimo estranho é que o filme parece mais longo do que é. São 2 horas e 10 minutos de projeção, mas as várias situações que ocorrem parecem alongar a trama. Acontece que tudo se fecha perfeitamente no fim. Cenas épicas são construídas e não vão decepcionar amantes de X-Men ou amantes de cinema. É interessante também como o diretor Matthew Vaughn muda o ritmo das imagens na cena em que os mutantes estão treinando seus poderes. É como se fosse um pedaço de algum episódio de X-Men Evolution.

X-Men: Primeira Classe é divertido, mas muito humano, diferente de Thor que apenas diverte. O que faz dele muito melhor. A melhor adaptação de HQ's do ano até agora.