quinta-feira, 8 de março de 2012

Danica

"Seu cigarro está pra acabar, assim como o turno do astro sol, que vai se pondo ao fundo. Uma visão privilegiada para quem mora no apartamento número 94, da torre 1. Condomínio Joy Dimension. Um dia já foi uma bela réplica dos prédios da famosa orla de Miami Beach. Não haver uma praia ali, era mero detalhe. Já foi um prédio cor salmão, que pela noite, abandonava a cor clara, para gritar com seu magenta neón. Mas isso foram outros tempos e ela nem era residente naquela época. O portal do prédio, estava velho e sujo. Apenas chegando muito perto, era possível uma leitura do pórtico. Era um arco em cor de madeira e o letreiro também da mesma cor. Porém, de noite era outro grito neón, dessa vez verde. Danica lembra ter lido aquilo apenas uma vez, quando chegou com suas malas, acompanhada de três amigas. Todas traziam bagagens e sonhos. As amigas se foram com o tempo e os sonhos também. Eles não caíram na promessa do pórtico do condomínio: “Uma outra Dimensão!”. Bastaram algumas semanas e o apartamento tornou-se mera extensão da realidade. As quatro jovens descobriram a vida no Lacienda. E que uma vez vivendo ali, não escapariam de formas santificadas. E, fora Danica, todas as outras saíram de lá com seus pecados em busca do paraíso. Danica preferia viver no inferno com seus próprios demônios e os dos outros. Não faria como Ana, que foi mandante do assassinato da esposa de seu marido, para que assim, pudessem se casar e ele a sustentasse. Nada contra Ana, as duas ainda se falam normalmente, foram mais amigas e hoje se respeitam. Mas Danica não colocaria tanto esforço por uma “estável”. Não. Lana virou a rainha branca. Começou a vender cocaína durante as noites, entre um intervalo de um programa e outro. Ficou “famosa” demais pela cidade, resolveu mudar para Europa. Com os contatos certos, o corpo quase perfeito e sua habilidade com facas, logo tornou-se “La Reine Blanche”. Engraçado era que ela não usava drogas. Quando cheirou pela primeira vez, enquanto estava em um hotel em Nice, comemorando a maior venda de sua vida, ela teve uma arritmia cardíaca e morreu. Barbie, foi a primeira a sair. Usou de seu corpo para pagar bons estudos. Hoje é uma vice-presidente da maior imobiliária do país. Nunca mais ela pisou novamente em Lacienda e fez uma visita para Danica. Todas foram viver com seus pecados no paraíso, Lana já na versão 2.0. O cigarro de Danica atinge o filtro, o sol se foi, a noite chega e o celular pode tocar a qualquer momento. Ela descola o tórax da janela e desliza o vidro que a fecha. Não há mais as cortinas floridas que ela trouxe de sua casa. Certa vez bebeu tanto, no nascer do sol, que ascendeu um cigarro e o foi ver a aurora do dia. Distraída, deixou o cigarro ao lado do braço direito. Adormeceu ali mesmo e só acordou com o cheiro de tecido queimado. Queimou o único resquício de sua adolescência. Porém, ela realmente não ligava para isso. Não mais. Com a ajuda das luzes da noite, ela tateou procurando o interruptor e o empurrou para cima. Uma luz fraca surgiu no teto do apartamento. Era entre o amarelo e o laranja, não se decidia. Apesar de fraca, foi suficiente para Danica avistar o sofá. Estava envolto em um lençol azul marinho e dividia a sala apenas com a TV. Haviam mais coisas ali, na época de ouro. Quando, uma a uma, as meninas foram saindo, algumas coisas também foram. Mas a maioria, Danica trocou por drogas e dinheiro. Dinheiro que logo virou bebida. Agora ela podia contar nos dedos as coisas que haviam no apartamento. Sofá velho, lençol azul marinho, pequena mesa retangular, que era suporte da TV usada e velha. Antes, era uma televisão bem mais nova, muito bonita. Virou um saquinho de açucar, com resquícios de cocaína. Depois de alguns dias, a abstinência do quadrado mágico, foi maior do que a abstinência de crack e Danica conseguiu a velha televisão usada, ficando assim, estável. Havia uma cama arrumada, mas raramente usada. Danica gostava de dormir no sofá, assistindo ao talk-show do Skinny. Ao lado do sofá, um cinzero preso em um pedestal. E era só, mais nada. Danica deitou-se ao sofá e procurou algo com sua mão próxima às nádegas. Não encontrou, pois aquilo não existia mais. Levantou-se, foi até a TV. Apertou o botão preto que estava próximo à pequena luz vermelha. A princípio não houve imagem, apenas o som de risadas falsas. Pelo horário, era o seriado “Missy Mississipi”. Mais uma reprise. Era tão velho, preto e branco, sem graça, de tanto que fora reprisado. Danica odiava o seriado. Voltou ao sofá e deitou-se novamente. A imagem surgiu de repente na tela preta. Sua calcinha estava com o lado esquerdo sendo engolido por suas flácidas nádegas. Ela meteu a mão por debaixo da calça, ajeitou a roupa de baixo e ficou assistindo “Missy Mississipi”. Riu de algumas piadas, ascendeu mais um cigarro. Começou a escutar tiros do lado de fora, carros passando correndo. Uma noite quente de verão. O mundo se agita o triplo do habitual. Sentiu vontade de urinar. Levantou-se e foi até o banheiro. Baixou as calças com força, para ter certeza de que levava a calcinha junto e sentou no vaso limpo. Era uma casa limpa, apesar da precariedade do prédio e da falta de móveis. Aliviou-se, tragando seu cigarro. Não era o favorito. “Ei, Lucky, me vê um maço de Liberty”, ela perguntou. “Jan, sinto muito xuxu, mas acabou meu estoque de Liberty”. Ela pensou, que deveria parar de comprar cigarros com Lucky. Ele já foi um bom revendedor, mas perdeu espaço nos últimos anos. “Ele não tinha tanta sorte assim” ela pensava enquanto a urina dourada descia de sua vagina. “Então me da um Boulevard mesmo”. Ela não suportava um Boulevard. Até o nome, ela não suportava. Gosto ruim, cheiro ruim, tudo ruim. “Por que merda eu pedi um Boulevard, então? Eles são mais baratos Dani, você sabe disso.” Terminou o cigarro e terminou de urinar. Danica levantou-se, subiu a calcinha e depois sua calça preta. Puxou a descarga, enquanto puxava outro cigarro do maço. Tossiu. “Isso que dá fumar, Danica. E ainda por cima, fumar um maço de Boulevard.” Era o último. Ascendeu-o e depois foi lavar as mãos. Jogou uma água no rosto e tentou se olhar no espelho, mas este estava todo trincado. Haviam dez Danicas ali e ela ficou com preguiça de analisa-las. Andando vagarosamente para seu sofá, ela assistia de longe os créditos do seriado, mas não ficou nem feliz e nem triste com isso. De sopetão, a caixa preta apagou-se. Danica suspirou, como quem já se cansou de algo. Já haviam dias em que a TV estava com esse surto de desligar-se sozinha. Continuou sua caminhada desprenteciosa. Quando estava à frente do aparelho, agachou-se e viu-se com o reflexo da tela. Notou alguns furinhos na sua face. Não muitos, mas um sinal da idade. O cabelo estava preso com um coque. A cor oscilava entre um loiro falso e o castanho escuro veridadeiro da raiz. Os olhos, pequenos e escuros. Usava um top cinza decotado. Apalpou os seios, para certificar-se de que o implante continuava ali. Ainda imaginava que um dia, a coisa ia escapar dali e sair quicando pela sala ou pior, durante um programa. Ela ainda travava quando um cliente, afoito por peitos, metia os dentes e os apertava. Estavam firmes, do jeito que ela e os outros gostam. Estava a mesma coisa de sempre, nenhuma novidade. Ligou a TV de novo, tornou a deitar-se ao sofá, fumando o último Boulevard. Agora, o programa era “Lei da Sobrevivência”. Pequenos documentários de pessoas que sobreviveram à uma provação horrível da vida. Danica nunca via algum programa sobre sobreviventes do Lacienda. Quem sabe hoje? É, ela tinha algumas pequenas expectativas da vida que a faziam esquecer certos absurdos. O programa estava pra começar, a abertura no seu encerramento. Quando o narrador pôs-se a falar, o celular tocou. Hora de trabalhar."



domingo, 31 de julho de 2011

Capitão América: O Primeiro Vingador

Depois dos dois primeiros  Homem de Ferro e Thor, a Marvel Studios fecha o ciclo de filmes pré Vingadores, o filme que estreará em 2012 e será composto por todos os heróis apresentados até agora em seus filmes. O encerramento de tal ciclo se deu com Capitão América: O Primeiro Vingador.


A trama é a seguinte: durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem franzino Steve Rogers (Chris Evans) quer se alistar no exército a qualquer custo, mesmo tendo problemas fisiológicos que viram a atrapalha-lo na guerra. Mas seu espírito altruísta encanta um cientista, o alemão Abraham Eskine (Stanley Tucci), que dá uma chance para Rogers mostrar seu potencial e ser escolhido para um experimento de supersoldado e ajudar seu país na guerra contra uma unidade especial nazista, a organização Hidra liderada pelo megalomaníaco Caveira Vermelha (Hugo Weaving)

O filme sempre foi uma incógnita no filão de super-heróis. Trata-se de um herói que carrega a bandeira de um país nitidamente. Diferente de Superman, que é um exemplo do sonho norte-americano, o Capitão é um exemplo militar e patriótico para os yankees e carrega consigo toda essa ideologia. Porém, como todo super-herói dos quadrinhos, o universo do "bandeiroso" é aberto e a abordagem poderia não se prender aos valores que serviram de gênese do personagem.

Mas aí temos que lembrar da proposta da Marvel Studios. Ela é despretensiosa. São blockbusters que visam um público geral. Foi assim com todos os seus filmes. Não se pode esperar dessa leva, algo mais denso e profundo como O Cavaleiro das Trevas. Ainda mais quando tais filmes têm que ficar se amarrando entre si para gerar um outro. Tudo isso limita o trabalho das pessoas envolvidas, como já discuti na minha resenha de Thor.


Pode soar redundante, mas sim, Capitão América funciona da mesma forma que Thor. Porém, consegue ser ainda mais raso e problemático que o filme do deus do trovão. Dirigido por Joe Johnston (do fraco O Lobisomem), o filme tem como protagonista o ator fanfarrão de comédias adolescentes e ex-Tocha Humana Chris Evans (Quarteto Fantástico, Scott Pilgrim Contra o Mundo). Johnston se mostra novamente um diretor sem firmeza. Cenas forçadas, outras com erros de continuação, um filme sem ritmo algum. Novamente, isso pode ser pelo fato do filme ser um prequel dos Vingadores, mas não se nota aqui que Johnston quisesse dar um cara ao seu filme. Nem a tentativa de se parecer um um Indiana Jones marombado consegue convencer o público de que há ali alguma identidade. Chris Evans até que tentou se ater à um papel mais sério, mas depois que seu corpo é modificado, parece que a Evans se sentiu a vontade de emprestar a tonalidade cômica que fez seu currículo em Hollywood. O elenco de apoio é competente. Tommy Lee Jones como Coronel Chester Philips não destoa em momento algum em seu papel, sendo carrancudo do começo ao fim. Hugo Weaving se destaca apenas pela sua presença, mas dessa vez o papel não ajudou muito. As motivações do vilão Caveira Vermelha são supérfluas e sem muita explicação. Funcionaria em dias anteriores (pode até funcionar para pessoas com síndromes maniqueístas), mas tal vilania hoje em dia já não agrada, nem é novidade.

A história é corrida. Tudo acontece rapidamente. As cenas de ação são fracas, bem fracas. Pra variar, no final, quando se esperava um combate direto, de porradaria entre o herói e o vilão, tudo tem que ser limado para levar o filme à uma moralidade vazia. Há certos momentos bizarros onde a trilha sonora não se encaixa com o enredo, dando uma sensação inversa para o espectador.


Pra não dizer que o filme é completamente ruim, as cenas em que acontece uma certa metalinguagem foram bem sacadas. A ironia de Steve Rogers vestir o uniforme clássico das HQ's durante sua turnê publicitária de guerra; garotos segurando "gibis" do Capitão América (cuja capa é a original n°1 da cronologia dos quadrinhos). Tudo de uma forma bem humorada. Pena que o filme tente mesmo dar muito espaço para os acontecimentos "sérios" ali propostos.

Diverte em certo momento, mas no final, Capitão América: O Primeiro Vingador deixa um gosto vazio para o espectador. Nenhuma piada será levada pra frente (como "Essa bebida é ótima! Outra!" de Thor e "É, eu posso voar" de Homem de Ferro). Vamos esperar pra ver se esse Capitão América consegue se dar melhor no vindouro Vingadores.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Resenha Musical - To Record Only Water For Ten Days (John Frusciante)


A história de John Frusciante no meio musical poderia servir muito bem para qualquer roteirista de Hollywood realizar um filme moralista, de superação através do trabalho e da dedicação. O (por enquanto) ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers era apenas mais um devoto fã da banda californiana. Idolatrava Hillel Slovak e seu estilo de tocar. Quando Slovak faleceu devido uma overdose de heroína, o fã foi escolhido para preencher o vazio deixado pelo guitarrista. Definitivamente o sonho de qualquer um em situação parecida. Mas por que Hollywood não se apropriou da linda história de conto de fadas de Frusciante? Bom, talvez pelo fato da mesma não poder ser encarada dessa forma, pois a vida não para. Não é igual final de novela onde o casamento coroa o happy ending.

O nova-iorquino fez sua carreira com os Chili Peppers e foi obrigado a lidar com a fama da banda, que cada vez mais crescia. O encontro com as drogas foi inevitável e Frusciante logo se viu afundado no vício com a heroína. Isso o afastou dos Peppers, quando ele deixou a banda pela primeira vez em 1992. No frenesi de seu vício, Frusciante gravou seus dois primeiros álbuns solos (Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt e Simle from The Streets you Hold) até aceitar a reabilitação. Depois de se livrar do vício de heroína, o excelente guitarrista, mais experiente e maduro, retornou ao Red Hot Chili Peppers precisamente em 1999. Mas ele ainda precisava exorcizar seus próprios demônios. E foi em To Record Only Water for Ten Days que o guitarrista fez o seu ritual de libertação.

O álbum abre com a canção “Going Inside” e serve exatamente para que o ouvinte se dê conta que a viagem é pessoal, interna, introspectiva (You don’t throw your life away / Going inside / You get to know who’s watching you/And who besides you resides). Além da guitarra distorcida e acústica, Frusciante se apropria de batidas e efeitos sintetizadores para ambientalizar a sua jornada interna. A influência de bandassynthpop dos anos 80, é nítida e da um tom de obscuridade. Claro, tudo dentro da proposta de artista. Outra influência de John Frusciante na obra, são as referências espirituais que surgiram durante sua recuperação.

Talvez pelo fato do álbum ser muito introspectivo e um tanto sombrio, não teve uma recepção popular calorosa. As guitarras estão abafadas e por vezes somem durante as fortes batidas eletrônicas, usadas de forma um tanto exageradas. O álbum se intensifica quando a parte sintetizada faz um lindo diálogo com a crueza das guitarras acústicas, como por exemplo em “The First Season”. É notável em To Record Only Water For Ten Days que as peças musicais estão apenas tentando se juntar. As canções são curtas e objetivas. Cumprem seu papel de introspecção, pois não há muito a se dizer sobre os sentimentos ali expostos.

Um dos pontos mais interessantes desse álbum passa a ser os curtos interlúdios instrumentais. Em “Ramparts” e “Murders”, as melodias falam por si só. Como na maioria das instrumentais (as sinceras, é claro) são nessas faixas em que a melancolia transborda e o ouvinte se vê em empatia com o artista. Não que o resto do álbum não tenha belas melodias e toda a melancolia da situação, mas especificamente nos interlúdios é que conversamos um pouco com Frusciante (talvez pela ausência das palavras e situações específicas) fazendo um reverso da primeira canção, um“going outside”. Porém, logo em seguida mergulhamos em sua igreja novamente para o caminho final do exorcismo.

É na parte final que as canções adquirem batidas mais presentes e melodias mais esperançosas. A voz de John torna-se mais calma e aguda. A tensão vai se libertando. Aliás, isso nos levará de volta ao título do álbum. Para Frusciante, “gravar água por dez dias” seria o mesmo que dizer que sua obra foi realizada em dez períodos diferentes. Se no início somos convidados a adentrar nos sentimentos peculiares do músico, quando entramos em seu período final, aparentemente, o músico já havia lidado com seus demônios interiores.

Frusciante voltaria a lançar novas canções de sua carreira solo em 2004 em inspiração contínua, pois naquele ano lançou três álbuns: Shadows Collide With People, The Will To Death e A Sphere In The Heart Of Silence onde ele repetiria essa experiência folk/eletronica em uma execução mais madura. Porém, esse já consolidado artista jamais abandonou sua veia psicodélica e introspectiva, que o coloca quase no mesmo patamar de Elliott Smith.




*texto publicado originalmente no blog Tequila Radio

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Justiça é Cega...e Caveira

A sinopse é épica. Bombeiros vândalos e terroristas invadem o Quartel Central do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. Lá, fazem bombeiros justos, mulheres e até crianças como reféns. Armados perigosamente com marretas, os terroristas demandam que o governo libere um aumento absurdo nos salários da classe, que já ganha generosos R$ 950,00, dinheiro público que poderia ser investido em mais estádios para a Copa do Mundo. Indignado com a atitude dos criminosos, o Senhor Governador Sérgio Cabral, envia os heróis do Rio de Janeiro. A tropa de elite, capaz de lidar com as situações mais perigosas e tensas. Quando a solução é a força, a sociedade recorre ao BOPE.

Parece o roteiro de um vindouro Tropa de Elite 3. Talvez foi assim que trabalhou a mente de Sérgio Cabral, ou foi isso que ele tentou demonstrar, ao ficar sabendo da situação que ocorreu entre os dias três e quatro desse mês. Mas minha análise vai um pouco mais a fundo nessa questão. É engraçado ver como o BOPE (Batalhão de Operações Especiais), que serve ao poder público, além de ter se tornado um argumento eleitoreiro por parte do governo do RJ, agora serve de contexto para ilegitimar a luta justa de trabalhadores. Isso não é culpa dos soldados da corporação militar, já muito bem retratados nos filmes de José Padilha. Eles acreditam que fazem o bem. O problema é a administração governamental por trás da corporação.

Força Policial e os Bombeiros "vândalos"

Para quem não sabe, um grupo de mais de 400 bombeiros invadiu há uma semana e meia o Quartel Central, no centro da cidade do Rio de Janeiro para reivindicar melhorias salariais na classe. Para reprimir o motim, a cadeira de segurança do governo do estado, enviou o BOPE. Sim, os bombeiros cometeram o crime de motim previsto pelas leis militares. Tenho certeza que eles sabiam disso. Mas isso pode tirar as justificativas levantadas pela classe? Esse ato extremo, com certeza se deu depois de tentativas de diálogos falhos com os representantes. Nada justificaria o ato dos bombeiros? Discordo. Eles fizeram sua voz arder nos ouvidos do estado. Ironicamente, logo depois do "motim", o governo anuncia um reajuste salarial para a classe dos bombeiros. Acham mesmo que se não houvesse o alarde, esse reajuste seria feito? O ato foi longe de ser legal perante a lei, mas isso o transforma em ato anti-ético? É de se pensar. É de pensar também pelo fato de Cabral chorar por causa de royalties de petróleo, ao mesmo tempo que não sente empatia pelo "choro" dos bombeiros.

Mas o que a administração do BOPE tem a ver com isso? Simples. Cabral utiliza-se dessa carta na manga para "sujar" atos justos que possam prejudicar o seu governo. O BOPE virou sinônimo da luta contra o crime e de justiça. Uma corporação formada por incorruptíveis, que são treinados para uma guerra contra o "mal" generalizado da cidade. A imagem da Polícia Militar do estado, ficou muito manchada por conta do sucesso de Tropa de Elite 2 e a corporação "caveira" virou coqueluche nacional. A ação seria muito questionável, segundo a lógica de Cabral, caso a PM tomasse conta da situação. Porém o tiro parece ter saído pela culatra. A entrada do BOPE com armas letais no Quartel, onde as esposas e filhos dos manifestantes se encontravam (e quem disser que isso foi pensado como "escudo" na manifestação, favor pensar antes de falar), foi exposta por vários veículos de comunicação. Cabral foi no mínimo um tanto ingênuo na sua atitude, pois não contava com a repercussão negativa do ato.

Sérgio Cabral ou Sérgio Mobral?

Não sejamos ingênuos também em achar que Folha, Globo, Estadão e outros, fizeram esse "bem social" de informar em detalhes a ação por bondade. Sabemos que Cabral faz parte da base aliada da presidente Dilma e que tais veículos não simpatizam com o PT, sendo um deles de forma declarada. Não sou petista, mas sou estudante de jornalismo e essa prática de cutucar sutilmente aqueles que não agradam, é um tanto hipócrita.

A questão é que nós como cidadãos e os mais de 10 milhões que assistiram Tropa de Elite 2 sabemos (ou deveríamos saber) que o BOPE é uma entidade necessária atualmente, mas que surgiu do descaso do estado com a infraestrutura pública. É um fator reativo e muito específico. O BOPE não pode ser usado como propaganda eleitoral, nem como símbolo da justiça. Ações como a dos bombeiros, se resolvem no diálogo e poderiam ter sido evitadas caso houvesse uma comunicação justa e transparente entre as partes envolvidas.

Capitão Nascimento, símbolo do BOPE

Como diz o bordão do BOPE, "Missão dada é missão cumprida". A pergunta que fica é: Quem dá a missão?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Magneto - Testamento

X-Men: Primeira Classe chegou aos cinemas faz uma semana. Um dos pontos altos do longa é a trama que envolve o jovem Erik Lehnsherr em sua busca por vingança. Muita gente deve ter saído do cinema tocado pela história triste, que envolvia o nazismo e sua caça aos judeus. Como todo mundo sabe, X-Men surgiu nos quadrinhos e as histórias no cinema são adaptações. Para quem sentir curiosidade, a Panini lançou ano passado o encadernado Magneto Testamento, uma história fechada que nos leva à infância de Max Eisenhardt, o nome de batismo do Magneto dos quadrinhos.

Capa Brasileira
A história é bem construída. O "problema" talvez seja criar uma personalidade dócil ao futuro maior vilão mutante. A família de Max é muito boa uns com os outros, sua criação é bem saudável. Fica muito difícil acreditar no enorme desvio de caráter que transformará Max em Magneto. No mínimo, a guerra e toda a tragédia que viveu nos campos de concentração, deixariam o jovem reprimido. Talvez a descoberta de seu poder pode ter mudado tudo.

No mais, é uma bela história e os desenhos de Carmine Di Giandomenico são únicos. O traço pode estranhar no começo por sua simplicidade, mas depois acostuma-se. A maior virtude do desenhista é a dinâmica nas cenas de ação. Tudo parece realmente mover-se como na cena em que Max arremessa uma lança, de ponta de ferro, mais longe que seus colegas de classe. Aliás, é sútil como o autor, Greg Pak, consegue demonstrar a inocência de todos que não percebem o poder mutante de Max. Seu pai diz que o filho tem olhos aguçados. E a medida em que fica mais claro a utilidade dos poderes do jovem Magneto na trama, achamos que eles serão cruciais em momentos angustiantes. Greg Pak caminha o leitor, mas o surpreende de forma gratificante.

A influência de uma das maiores HQ's da história é nítida no roteiro de Pak e também na arte de Giandomenico. Maus está ali, em quase todas as cenas, principalmente quando somos levados à Auschwitz. Não que a HQ tente copiar a obra prima de Art Spiegelman, mas a toma como base, pois os relatos em Maus são os mais verídicos retratados em quadrinhos.




Magneto Testamento não é uma obra prima, mas para os fãs de quadrinhos é uma visão a mais do universo e do passado de um dos maiores vilões (ou não) das HQs.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estado Laico Segundo as Leis de Deus

É interessante notar, como muitas pessoas acham que a República Federativa do Brasil, mais precisamente sua constituição, foi criada de acordo com as leis de Deus. O pior disso, é saber que as pessoas que têm o poder, estão levando tais convicções para dentro de onde deveriam deixa-las de lado. Bolsonaros estão por toda parte e usam e abusam de frases do tipo: "Graças à Deus" "A vontade de Deus" "O senhor Jesus" como argumentos para suas decisões políticas.

Charge de Cau Gomez

Todos fomos surpreendidos no começo do mês passado quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, ou união homoafetiva. Isso foi uma vitória para uma classe tão reprimida na nossa chamada "democracia". Ainda estamos longe de uma nação livre de preconceitos e homofobia, mas este foi um passo muito importante para caminharmos à uma plena democracia (algo que acredito ser quase impossível numa sociedade capitalista, mas tudo bem, estamos tentando ao menos).

Porém, não foi surpresa alguma quando nos deparamos com o contra-ataque de pessoas que não eram a favor de tal direito. Tais pessoas não escondem que seus argumentos são baseados nas leis de Deus, ou seja, são argumentos de base religiosa. Ok, todos têm direito de escolher o caminho que quiser e suas convicções sobre o mundo. Mas o que pouquíssimas pessoas entendem, é que o Brasil é um estado laico. "Mas Melchior, o que significa isso?". Se você realmente não sabe, explico:

Num Estado Laico, o governo NÃO apoia e NÃO se opõe também à questões religiosas, sendo essas para serem tratadas separadamente. Ou seja, não é possível que o governo leve em consideração argumentos religiosos para realizar suas leis. Tais leis também, não podem favorecer qualquer religião. E quando se diz que o estado não se opõe à qualquer religião, isso não quer dizer que ele deve aceitar toda e qualquer reivindicação religiosa.

Pois bem, ao menos o Supremo não levou em conta esses argumentos certo? Bom, não tá sendo bem assim. Ocorre que existe um projeto de lei andando pelo congresso que visa sustar (anular) a união homoafetiva. O Projeto foi criado pelo deputado João Campos de Araújo (PSDB/GO). Porém, como homem da lei (em duas instâncias, pois além de deputado, Araújo é delegado de polícia) o deputado obviamente não poderia fazer esse projeto baseado claramente em questões religiosas. O ponto que o projeto se baseia é de que a Constituição brasileira é clara ao definir a união estável, expressamente entre um homem e uma mulher. Sim, realmente a Constituição define isso. Mas não é essa mesma Constituição que diz no Artigo 3°, item III que a República Federativa do Brasil tem como objetivo fundamental erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais? Ora, a lei de união homoafetiva se inclui aqui! Enquanto isso emendas constitucionais são feitas cada vez para aumentar a pobreza, a marginalização, aumentar as desigualdades sociais. A nossa Constituição é atrasada e foi feita por mãos quase tão vis quanto àquelas da Ditadura. Quando utilizamos desse artifício da emenda para caráter democrático real alguém tenta, usando o mesmo argumento que a valida, invalida-la. E o pior, isso é aceito. No fundo, o deputado esta se baseando em fundamento religioso e fingindo não ver que a constituição não é de Deus. Não foi escrita por Ele. É no mínimo curioso o fato de que o deputado Araújo saiu em carreata junto com outro candidato a deputado estadual, o Pastor Elismar Veiga.

Outdoor do Pastor Silas Malafaia, um dos maiores críticos ao homossexualismo

Enfim, está rolando uma enquete* agora na página oficial da Câmara dos Deputados. Nela, pergunta-se a nós, cidadãos do estado laico, o seguinte:

"Você concorda com o projeto (PDC 224/11) que susta a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer a união homoafetiva?"

São duas respostas possíveis:

"Sim, porque a Constituição é clara ao definir a união estável, a entidade familiar expressamente entre um homem e uma mulher."

"Não, porque com o reconhecimento da união estável os casais do mesmo sexo passam a ter direito a herança, pensão alimentícia e benefícios previdenciários."

Lamentavelmente, o SIM está ganhando. Não sabemos se essa enquete muda alguma coisa, mas pelo menos temos algo a nosso alcance que podemos fazer. Eu já fiz minha parte, independente de religião, orientação sexual ou visões filosóficas. Fiz baseando-me no que nossa própria nação prega: democracia, laicismo, proteção à vida e outras coisas mais.





* A enquete foi encerrada no dia 10, um dia depois da publicação desse post e o SIM venceu (55% contra 45% do NÃO)



terça-feira, 7 de junho de 2011

Promoção Castro

Pessoal, lembram da HQ Castro cujo review você leu com exclusividade aqui? A Editora 8INVERSO vai sortear mais dois exemplares da revista. Se você se interessou, é só fazer o seguinte:

Seguir a @8INVERSO no Twitter e retuitar a mensagem abaixo. Ao atingirmos a marca de 1.000 seguidores, sortearemos os livros e enviaremos gratuitamente. A mensagem a ser retuitada é:

Sigo a @8INVERSO, dei RT nesta mensagem e concorro ao sorteio de exemplares da #HQ CASTRO se a editora atingir mil seguidores!

Boa oportunidade galera. Aproveitem aí!