quarta-feira, 6 de abril de 2011

Resenha - Castro

Capa da edição Brasileira
Depois da prévia que fiz aqui sobre a HQ Castro, era questão de tempo para que uma resenha fosse realizada. Sem mais lero-lero, vamos à ela.

A obra é dividida em três capítulos, uma pequena introdução e um epílogo. Em todas as partes (menos o epílogo) estaremos sobre a ótica do fotojornalista alemão Karl Mertens, que ao ler uma entrevista que Fidel Castro deu ao New York Times durante sua estadia em Sierra Maestra, resolveu ir para Havana registrar os momentos que a revolução cubana vivia. É ele quem narra a HQ. Ao alcançar o acampamento de Fidel, Karl conhece alguns dos guerrilheiros e estes lhe contam as histórias de Fidel. Desde sua infância até o atual momento, a primeira parte serve para apresentar aos leitores um jovem e abastado Castro, filho de fazendeiros. Logo na infância já vemos ali um jovem convicto e teimoso, indo de frente com a ordem estabelecida em seu entorno. Um exemplo: aos 12 anos, Fidel já instigava os funcionários de seu próprio pai a se rebelarem através de greves, que reivindicavam melhorias nas condições de trabalho dos camponeses. Vale lembrar que o autor Reinhard Kleist recorreu ao biógrafo Volker Skierka, especialista na vida de Castro, para dar mais veracidade aos relatos enquadrados. Vemos a formação acadêmica do revolucionário e seus primeiros embates com os graúdos que comandavam Cuba naquele momento. Por ser uma obra que mistura ficção aos fatos, Kleist até brinca com isso ao inserir um dos mafiosos mais famosos do mundo em uma das cenas. Fica claro, então, que nesta primeira parte somos apresentados ao passado de Castro e como se deu sua formação revolucionária. Os problemas de Cuba são claros, quando é  refém de gangsteres americanos, que fazem do país o seu quintal lucrativo, com o pretexto de gerar dinheiro e empregos. Também lemos o primeiro encontro do líder cubano com um jovem argentino de convicções parecidas, porém mais globais, chamado Ernesto. Somos apresentados também à um Fidel mulherengo, que encanta as mulheres, mas parece não ama-las como ama a revolução, deixando-as amarguradas, enciumadas, distantes e, em alguns casos, vingativas. De forma sútil, também vemos o lado amoroso do protagonista, ao se apaixonar por Lara, uma guerrilheira que acredita nos ideais de Fidel.

Capa orginal
Na segunda parte, somos lançados ao êxito da revolução com a renúncia de Fulgencio Batista. O foco desta parte é a formação política que se da na Cuba pós-revolução. A ascensão de Castro ao tornar-se chefe de Estado, as primeiras desavenças com o governo norte-americano, a aliança com a União Soviética, as duvidosas atitudes do sistema aos chamados contrarrevolucionários e as sanções que foram impostas ao país, refletindo em controles sociais. Porém agora muitos mais da ótica do povo, representados pelo protagonista e seus amigos, do que de uma ótica narrada. As coisas parecem acontecer de fato nesta parte. Aqui podemos dizer que o caráter de Fidel é colocado em questionamento, mas não de forma vil. Os contra-argumentos do líder cubano não permitem que seus ideais sejam manchados, ao comparar suas atitudes com a de outros países. Kleist consegue humanizar aquele que muitos tratam como um ser mitológico. Há uma certa ironia do autor ao descrever as inúmeras tentativas de atentado à Castro, quando as retrata com desenhos de estilo infantil, como que demonstrando a mentalidade dos anti-Castro. Chama a atenção também o encontro de Castro com o então vice-presidente americano Nixon, que já agia de formas maquiavélicas e não públicas no governo de Eisenhower. Durante o entrave, há uma "quebra" dos quadros demonstrando ali o racha entre os dois governos. A famosa Crise dos Mísseis é retratada através da ótica de Fidel, que foi deixado de lado das negociações entre EUA e URSS. Nota-se na segunda parte, um distanciamento de Castro com seu povo, ao contrário da primeira parte, onde estamos muito focados no seu passado. Parece que quase não há empatia para com o líder cubano. Isso é sentido ao vermos vários dos homens de confiança da revolução cubana, debandarem ou desaparecerem misteriosamente.

Imagem do site oficial do autor

Na terceira parte, o tempo avança abruptamente e estamos já em 2010 com o protagonista e narrador já velho e suas expectativas com a Cuba socialista. É um capítulo bem menor, talvez pela dificuldade em se estabelecer um futuro certeiro para o país. Com a renúncia de Fidel e sua vida chegando ao fim, é possível dizer que o socialismo em Cuba está perto do fim? São perguntas que ficam no ar.

Uma das páginas da edição brasileira

Talvez o ponto negativo da HQ seja em não aprofundas nos personagens fictícios propostos por Kleist. Em certos momentos eles se tornam desnecessários e pouco profundos. O protagonista é realmente Karl Mertens ou Castro? Como material histórico, Castro é impecável. Portanto, acho que a obra funcionaria mais como uma biografia do que uma narrativa de ficção. O ponto de vista de Karl fica muito subjetivo quando este mistura-se com os fatos históricos. 

Em termos técnicos, a 8INVERSO faz um bom trabalho com papel e impressão, mas peca em poucos momentos na parte de revisão ortográfica, mas nada que comprometa o entendimento do leitor. A capa brasileira, na minha opinião faz mais jus à Fidel do que a original. Para quem tem curiosidade sobre a vida de Fidel Castro e os acontecimentos desde a revolução cubana até sua tomada ao poder da ilha, é uma leitura rica em detalhes e uma nova forma de enxerga-lo através da ótica única dos quadrinhos.

Dados Técnicos:

Autor: Reinhard Kleist
Tradução: Margit Neumann e Michael Korfmann
Páginas: 288
Preço: R$ 51,00

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