domingo, 31 de julho de 2011

Capitão América: O Primeiro Vingador

Depois dos dois primeiros  Homem de Ferro e Thor, a Marvel Studios fecha o ciclo de filmes pré Vingadores, o filme que estreará em 2012 e será composto por todos os heróis apresentados até agora em seus filmes. O encerramento de tal ciclo se deu com Capitão América: O Primeiro Vingador.


A trama é a seguinte: durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem franzino Steve Rogers (Chris Evans) quer se alistar no exército a qualquer custo, mesmo tendo problemas fisiológicos que viram a atrapalha-lo na guerra. Mas seu espírito altruísta encanta um cientista, o alemão Abraham Eskine (Stanley Tucci), que dá uma chance para Rogers mostrar seu potencial e ser escolhido para um experimento de supersoldado e ajudar seu país na guerra contra uma unidade especial nazista, a organização Hidra liderada pelo megalomaníaco Caveira Vermelha (Hugo Weaving)

O filme sempre foi uma incógnita no filão de super-heróis. Trata-se de um herói que carrega a bandeira de um país nitidamente. Diferente de Superman, que é um exemplo do sonho norte-americano, o Capitão é um exemplo militar e patriótico para os yankees e carrega consigo toda essa ideologia. Porém, como todo super-herói dos quadrinhos, o universo do "bandeiroso" é aberto e a abordagem poderia não se prender aos valores que serviram de gênese do personagem.

Mas aí temos que lembrar da proposta da Marvel Studios. Ela é despretensiosa. São blockbusters que visam um público geral. Foi assim com todos os seus filmes. Não se pode esperar dessa leva, algo mais denso e profundo como O Cavaleiro das Trevas. Ainda mais quando tais filmes têm que ficar se amarrando entre si para gerar um outro. Tudo isso limita o trabalho das pessoas envolvidas, como já discuti na minha resenha de Thor.


Pode soar redundante, mas sim, Capitão América funciona da mesma forma que Thor. Porém, consegue ser ainda mais raso e problemático que o filme do deus do trovão. Dirigido por Joe Johnston (do fraco O Lobisomem), o filme tem como protagonista o ator fanfarrão de comédias adolescentes e ex-Tocha Humana Chris Evans (Quarteto Fantástico, Scott Pilgrim Contra o Mundo). Johnston se mostra novamente um diretor sem firmeza. Cenas forçadas, outras com erros de continuação, um filme sem ritmo algum. Novamente, isso pode ser pelo fato do filme ser um prequel dos Vingadores, mas não se nota aqui que Johnston quisesse dar um cara ao seu filme. Nem a tentativa de se parecer um um Indiana Jones marombado consegue convencer o público de que há ali alguma identidade. Chris Evans até que tentou se ater à um papel mais sério, mas depois que seu corpo é modificado, parece que a Evans se sentiu a vontade de emprestar a tonalidade cômica que fez seu currículo em Hollywood. O elenco de apoio é competente. Tommy Lee Jones como Coronel Chester Philips não destoa em momento algum em seu papel, sendo carrancudo do começo ao fim. Hugo Weaving se destaca apenas pela sua presença, mas dessa vez o papel não ajudou muito. As motivações do vilão Caveira Vermelha são supérfluas e sem muita explicação. Funcionaria em dias anteriores (pode até funcionar para pessoas com síndromes maniqueístas), mas tal vilania hoje em dia já não agrada, nem é novidade.

A história é corrida. Tudo acontece rapidamente. As cenas de ação são fracas, bem fracas. Pra variar, no final, quando se esperava um combate direto, de porradaria entre o herói e o vilão, tudo tem que ser limado para levar o filme à uma moralidade vazia. Há certos momentos bizarros onde a trilha sonora não se encaixa com o enredo, dando uma sensação inversa para o espectador.


Pra não dizer que o filme é completamente ruim, as cenas em que acontece uma certa metalinguagem foram bem sacadas. A ironia de Steve Rogers vestir o uniforme clássico das HQ's durante sua turnê publicitária de guerra; garotos segurando "gibis" do Capitão América (cuja capa é a original n°1 da cronologia dos quadrinhos). Tudo de uma forma bem humorada. Pena que o filme tente mesmo dar muito espaço para os acontecimentos "sérios" ali propostos.

Diverte em certo momento, mas no final, Capitão América: O Primeiro Vingador deixa um gosto vazio para o espectador. Nenhuma piada será levada pra frente (como "Essa bebida é ótima! Outra!" de Thor e "É, eu posso voar" de Homem de Ferro). Vamos esperar pra ver se esse Capitão América consegue se dar melhor no vindouro Vingadores.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Resenha Musical - To Record Only Water For Ten Days (John Frusciante)


A história de John Frusciante no meio musical poderia servir muito bem para qualquer roteirista de Hollywood realizar um filme moralista, de superação através do trabalho e da dedicação. O (por enquanto) ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers era apenas mais um devoto fã da banda californiana. Idolatrava Hillel Slovak e seu estilo de tocar. Quando Slovak faleceu devido uma overdose de heroína, o fã foi escolhido para preencher o vazio deixado pelo guitarrista. Definitivamente o sonho de qualquer um em situação parecida. Mas por que Hollywood não se apropriou da linda história de conto de fadas de Frusciante? Bom, talvez pelo fato da mesma não poder ser encarada dessa forma, pois a vida não para. Não é igual final de novela onde o casamento coroa o happy ending.

O nova-iorquino fez sua carreira com os Chili Peppers e foi obrigado a lidar com a fama da banda, que cada vez mais crescia. O encontro com as drogas foi inevitável e Frusciante logo se viu afundado no vício com a heroína. Isso o afastou dos Peppers, quando ele deixou a banda pela primeira vez em 1992. No frenesi de seu vício, Frusciante gravou seus dois primeiros álbuns solos (Niandra Lades and Usually Just a T-Shirt e Simle from The Streets you Hold) até aceitar a reabilitação. Depois de se livrar do vício de heroína, o excelente guitarrista, mais experiente e maduro, retornou ao Red Hot Chili Peppers precisamente em 1999. Mas ele ainda precisava exorcizar seus próprios demônios. E foi em To Record Only Water for Ten Days que o guitarrista fez o seu ritual de libertação.

O álbum abre com a canção “Going Inside” e serve exatamente para que o ouvinte se dê conta que a viagem é pessoal, interna, introspectiva (You don’t throw your life away / Going inside / You get to know who’s watching you/And who besides you resides). Além da guitarra distorcida e acústica, Frusciante se apropria de batidas e efeitos sintetizadores para ambientalizar a sua jornada interna. A influência de bandassynthpop dos anos 80, é nítida e da um tom de obscuridade. Claro, tudo dentro da proposta de artista. Outra influência de John Frusciante na obra, são as referências espirituais que surgiram durante sua recuperação.

Talvez pelo fato do álbum ser muito introspectivo e um tanto sombrio, não teve uma recepção popular calorosa. As guitarras estão abafadas e por vezes somem durante as fortes batidas eletrônicas, usadas de forma um tanto exageradas. O álbum se intensifica quando a parte sintetizada faz um lindo diálogo com a crueza das guitarras acústicas, como por exemplo em “The First Season”. É notável em To Record Only Water For Ten Days que as peças musicais estão apenas tentando se juntar. As canções são curtas e objetivas. Cumprem seu papel de introspecção, pois não há muito a se dizer sobre os sentimentos ali expostos.

Um dos pontos mais interessantes desse álbum passa a ser os curtos interlúdios instrumentais. Em “Ramparts” e “Murders”, as melodias falam por si só. Como na maioria das instrumentais (as sinceras, é claro) são nessas faixas em que a melancolia transborda e o ouvinte se vê em empatia com o artista. Não que o resto do álbum não tenha belas melodias e toda a melancolia da situação, mas especificamente nos interlúdios é que conversamos um pouco com Frusciante (talvez pela ausência das palavras e situações específicas) fazendo um reverso da primeira canção, um“going outside”. Porém, logo em seguida mergulhamos em sua igreja novamente para o caminho final do exorcismo.

É na parte final que as canções adquirem batidas mais presentes e melodias mais esperançosas. A voz de John torna-se mais calma e aguda. A tensão vai se libertando. Aliás, isso nos levará de volta ao título do álbum. Para Frusciante, “gravar água por dez dias” seria o mesmo que dizer que sua obra foi realizada em dez períodos diferentes. Se no início somos convidados a adentrar nos sentimentos peculiares do músico, quando entramos em seu período final, aparentemente, o músico já havia lidado com seus demônios interiores.

Frusciante voltaria a lançar novas canções de sua carreira solo em 2004 em inspiração contínua, pois naquele ano lançou três álbuns: Shadows Collide With People, The Will To Death e A Sphere In The Heart Of Silence onde ele repetiria essa experiência folk/eletronica em uma execução mais madura. Porém, esse já consolidado artista jamais abandonou sua veia psicodélica e introspectiva, que o coloca quase no mesmo patamar de Elliott Smith.




*texto publicado originalmente no blog Tequila Radio