quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Topo 4+1 - Piores substitutos das HQ's

Depois do Top 5 de clipes dos anos 80 feito pelo Rafael, vou requentar um bem bacana e engraçado que fiz na época do Q de Quadrinhos. Esse vai em "homenagem" para os piores substitutos de heróis de quadrinhos. Muitos surgindo nos anos 90, a época desesperada dos gibis. Achei que estava tendo uma idéia original, mas foi mais inspirada em um Podcast do Melhores do Mundo.

4 - John Henry Irons (Superman)




John Irons é herói de segundo escalão da DC, como Aço (que teve filme homônimo de 1997 com Shaquille O'Neal no papel principal) e "substituiu" Clark Kent, depois da fracassada e famigerada "Morte do Superman". Na verdade, ele diz que não queria substituir o escoteiro alienígena, mas carregar o espírito que ele representava. Tudo bem, tudo lindo, mas se não era pra substituir, pra que usar o S no peito? É como se a Coca-Cola "morresse" e a Pepsi muda a embalagem pra vermelho e usasse as garrafas com o formato patentiado da Coca. Tava de olho era na carreira de primeiro escalão na DC, isso sim. E tá, vai dizer que o S dele é de "Steel"? Por não ser substituto, mas um oportunista, fica com a quarta posição.


3 - John Walker (Capitão América)





John (de novo) foi um cara que perdeu o irmão no Vietnã e queria honrar seu irmão, indo pro exército. Ele recebeu uma dispensa "honrosa" do exército (incompetência?) e aí escutou que um cara podia lhe dar poderes. Agora todo poder, ele deu a louca de peitar o Capitão América como o Super-Patriota. Só de tentar peitar o lendário, ele já não bate bem.


Logo depois, O C.A original, teve de abandonar o manto, a pedido do próprio governo norte-americano. Tudo não passava de um plano do Caveira Vermelha, o algoz máximo do Capitão, que ainda queria difamar a imagem do bandeira perante a sociedade americana. Para isso, ele chamou, adivinhem quem? Sim, o nóia do John Walker, achando que estaria salvando sua nação. Mas ele só fez cagada e lá foi o Steve Rogers consertar de novo.


No fim, John assumiu que ele não era feito para ser "estrela" e ficou como personagem secundário vestindo o manto do Agente Americano. Fica com a terceira posição por conseguir ser mais patriota (chato) que o Steve Rogers.


2 - Kyle Rayner (Lanterna Verde)





Kyle era um desenhista. Pronto, até então era a única coisa que sabíamos desse cara. Ganhou o anel verde que era de Hal Jordan sem muita explicação. Estava na hora errada, no lugar errado. Errado, porque Kyle foi um personagem cheio de idas e vindas depois que ingressou no universo DC. Sua personalidade parece que não existia, formando-a apenas depois de viajar pelas galáxias. Sendo assim, seu personagem não tem muita credibilidade. Em momentos, tentaram fazer de Kyle, um novo Hal Jordan (talvez os editores se arrependeram de ter matado o Lanterna Verde ícone). Por ser um "mal-caráter", fica com a segunda posição.


1 - Azrael (Batman)




Esse é um sujeito que recebeu críticas até morrer. E até reviver.

Jean-Paul Valley era um estudante nerd, mas na verdade, o último na linhagem de uma organização assassina "Ordem de São Dumas". Ele foi treinado pra ser um assassino de primeira, mas trombou com o Batman, se ajudaram e então ficaram aliados. A personalidade de Azrael não é o problema. Nem o seu jeitão de personagem dos 90's (isso, todo mundo tava na onda). O que pegou mesmo, foi quando Bruce Wayne, com a coluna destroçada, escolheu ele, para ser Batman. Um Batman cheio de traquinagens tecnológicas e armadura duvidosa. É o bastante para ele ficar na posição 1. Quase levou um ícone pro ralo. Quase, porque quem levou a franquia Batman pro lixo, foi Joel Schumacher e o seu Batman & Robin.


+1 - Ben Reilly (Homem-Aranha)




Ok. Esse é complicado. Tentem me acompanhar.

Ben Reilly surgiu como Aranha Escarlate. Um novo Homem-Aranha para os anos 90. Sim, ele é filho dessa linhagem. Tudo bem, até então. Ele era tipo, um Azrael. E, como o mesmo, chegou o dia em que assumiu o manto de Peter Parker. Certo, tudo igualzinho ao morcego. Não poderia ser pior, poderia? Sim. E foi. A Marvel deve ter achado isso mesmo. Que estava igual ao Azrael e tudo mais, que eles tinham que diferenciar do concorrente. Alguém teve, então, uma luz. Que parecia ser mais uma sombra. No meio da confusão da Saga do Clone, resolveram confundir tudo de uma vez. Em algum ponto da saga, foi dito que na verdade, Ben Reilly era o verdadeiro Homem-Aranha e que Peter Parker era o clone. Sim! Quem havia acompanhado os 30 anos de Aranha até aquele ponto, não estava acompanhando a verdadeira história, mas sim, a história de um clone. 30 anos! A Marvel, enfim, ganhou como a maior cagada já feita em HQ's. Os editores sorriram uns para os outros e disseram enfim: "Conseguimos." Depois, eles deram qualquer jeito para dizer que era tudo mentira, pegadinha. Que Peter era, de fato, o verdadeiro Homem-Aranha. E como qualquer bom funcionário temporário, Ben foi morto depois de servir o seu propósito. Por mais que eu tenha começado a acompanhar Homem-Aranha nessa fase, tenho que admitir: Ben Reilly é, definitivamente, o pior substituto de Heróis de Quadrinhos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Enquete!

Pequena pausa nos textos do La Colméia para um anúncio interno: primeira enquete do blog está aberta.

Faz tempo que gostaria de criar uma para saber o gosto de vocês e o que procuram ler. Então adicionei uma enquete ali no canto direito e gostaria muito da participação de vocês pois assim podemos fazer mais posts que interessam mais à vocês leitores.

Se algum item não estiver ali nas opções, peço que coloquem aqui nos comentários o que está faltando. É um passo importante para ficarmos mais próximos das pessoas que estão lendo o blog e que são muitas. Vocês nos leram, agora é a nossa vez de ler o sobre vocês.

Valeu e até o próximo post.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

As Virgens Suicidas


Sofia, a menina tímida que interpretou (terrivelmente) a Mary Corleone de O Poderoso Chefão III, carrega consigo um dos nomes mais pesados da Indústria Cinematográfica do século XX: Coppola. Tendo isso em mente, pode-se imaginar que uma pressão enorme, tanto por parte dos profissionais desse meio quanto da expectativa dos fãs de seu pai, deve ter caído sobre ela quando foi anunciada em 1999 que dirigiria e escreveria seu primeiro longa-metragem: As Virgens Suicidas. Hoje em dia Sofia tem em seu currículo quatro longas (o último deles Somewhere, de 2010), mas não deixa de ser válido mencionar o primeiro deles, já que para uma obra de estreia, um filme desse porte não pode nunca ser deixado em segundo plano.

Produzido por Francis Ford Coppola e baseado em um romance homônimo de Jeffrey Eugenides, As Virgens Suicidas mostra a fase final da vida de cinco irmãs do ponto de vista de um grupo de garotos que cultivam grande fascinação por elas. É importante mencionar a diferença de idade entre elas que é de apenas um ano, o que significa que o cenário consiste em uma casa onde vivem simultaneamente cinco garotas na adolescência. Mantidas pelos pais autoritários e religiosos em isolamento domiciliar, as irmãs Lisbon tornam-se ídolos inalcançáveis para os meninos que, sendo seus vizinhos e frequentando a mesma escola, analisam e especulam sobre cada aspecto da vida delas que são capazes de observar. Da perspectiva da narração (feita por Giovani Ribisi, ator que também está presente na obra posterior da diretora, Encontros e Desencontros), um desses garotos tenta, a partir dessa obsessão, entender os motivos que as levaram a cometer suicídio (quem disser que é spoiler, leia o título do filme) de uma maneira no mínimo bizarra. Com uma direção inspirada e controversa, Sofia conta em um turbilhão de cores, gestos e expressões uma história poderosa e comovente. A fotografia do filme é delicada, feminina e incitante, exibindo em muitos momentos um brilho ofuscante e uma aura sonhadora. A trilha sonora é impecável, contando com a introspecção eletrônica da maravilhosa banda francesa “Air” e algumas faixas da banda de rock “Sloan”.

O pontapé inicial do enredo é a tentativa de suicídio da irmã mais nova Cecilia, logo de cara deixando claro que a melancolia dessa história não será manipulada pelos recursos clássicos de suspense e drama que normalmente vemos em filmes que focam a natureza feminina – os girl flicks. Em vez disso, a diretora carrega sutilmente ao longo do filme a tristeza de uma vida limitada por dogmas culturais no contexto da juventude dos subúrbios americanos. Geralmente ao assistir a filmes que relatam “dramas adolescentes”, o que se vê é uma verborragia um tanto novelesca, além de conflitos banais que acabam por serem resolvidos magicamente por fórmulas igualmente banais.

O diferencial dessa obra é que para entender o que se passa com as irmãs Lisbon, é preciso acima de tudo observar atentamente aos detalhes, que são o ponto forte desse filme. Um bom exemplo é a cena do cinema, em que o talento de Sofia consegue de uma belíssima maneira transmitir as emoções implícitas na situação proposta, e com apenas uma frase, culminar no grande clímax da história do carismático casal que lidera o elenco das personagens, Kirsten Dunst e Josh Hartnett. Alguns críticos atiraram tomates dizendo que as personagens são superficiais e mal construídas, quando na verdade, para um observador externo, é impossível definir os sentimentos e anseios que ditam o comportamento de pessoas reais e, consequentemente, o que se vê pode não fazer perfeito sentido dentro dos parâmetros de uma história linear simplesmente por não conhecer o contexto das vidas delas por completo.

Para enxergar a realidade da (des)motivação dessas garotas é preciso imaginar o que não se vê, através de gestos e detalhes, justamente como fazem os garotos que espionam as vizinhas com binóculos para satisfazer sua curiosidade. Compreender plenamente o que se passa com elas é uma tarefa impossível, afinal sabemos que muitos pais passam a vida toda sem ter a menor pista de quem seus filhos realmente são. No final o espectador ainda se encontra sem saber exatamente o que concluir, deparando-se com um desfecho ambíguo e aberto a diversas interpretações diferentes, o que faz jus ao peso dessa história e ao realismo das circunstâncias em que ela toma forma.

Com atuações sensíveis de Kathleen Turner e James Woods, As Virgens Suicidas é um filme que pode comover ambos os gêneros, especialmente para o cinéfilo que gosta de analisar as personagens sem que sua caracterização seja mastigada e entregue de bandeja pelo autor. Não é um filme fácil, mas não pelos motivos óbvios. É perfeitamente inteligível mesmo para o espectador mais leigo, porém exige um total envolvimento com a trama e as personagens para que se compreenda o que ele realmente tem de melhor. A princípio, na história pode parecer que existe uma falta de propósito, mas pra quem gosta do Cinema que expressa através da linguagem visual, é um prato cheio e uma deliciosa viagem de sutileza e melancolia.

(Resenha publicada originalmente em Vortex Cultural, 25 de Maio de 2010)


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Meus 5 clipes favoritos dos anos 80

Aproveitando o texto anterior do Melchior sobre a música contemporânea, peguei o carro dele emprestado e voltei alguns quilômetros.

Vou dar uma de Rob Fleming pra relaxar, descontrair, com uma listinha amiga e educativa dos meus clipes favoritos dos anos 80.

Quem me conhece sabe que não sou afeito aos padrões, surreal, mestre de cerimônias loucas e outras bobagens. Minhas preferências estéticas não poderiam ser diferentes.

Bem, vamos lá, vou começar com um light:

Tears For Fears - Sowing the Seeds of Love

A banda, pra quem não conhece (duvido que alguém não conheça ao menos Shout ou Everybody wants to rule the world, mas), é inglesa e toca um pop rock com sintetizadores cheios de vigor, assim como a voz de Orzabal, além de possuir letras sobre os sentimentos mais primários do ser humano. É simplesmente foda.

O clipe que escolhi deles é o mais psicodélico e simbólico possível, dirigido pelo grande Jim Blashfield (que trabalhou com o Talking Heads e, recentemente, colaborou com o Weird Al Yankovic). Sowing the seeds of love chegou a ganhar dois prêmios na MTV: de melhores efeitos especiais e de vídeo inovador.



Soft Cell - Tainted Love

Esta música todo mundo conhece, daquelas baladinhas anos 80 ou das festas de aniversário dos pais.

Soft Cell é uma banda de new wave que também se deu muito bem com os sintetizadores. Fez muito sucesso com esta música, gravada originalmente por Gloria Jones, mas eles têm outras músicas tão interessantes quanto, mais perversas, sombrias, irreverentes. Recomendo o CD Non-Stop Erotic Cabaret :)

O clipe, não sei se sou exagerado, contém cenas com referências ao homossexualismo (todo mundo vestido como os romanos, um negão sem camisa fazendo ventinho nas costas do Marc, et cetera) e à pedofilia, afinal, o cara tá cantando Tainted Love para uma garotinha! Sou maluco, imagino coisas?! Não sei, assista o clipe e depois responda nos comentários:



Devo - That's Good

Não sei definir Devo. É rock, é industrial, é pop, tem sintetizador, é estranho, é distópico, é futurista (daquela safra que só a década de 80 poderia ter produzido).

Devo vem de devo-lution, não devolução, mas de-evolução, a fase que o ser humano está vivendo, de acordo com eles, de regresso, de atraso mental, vamos voltar às cavernas!

O clipe de That's Good é fantástico, nostálgico (pra mim), irônico, provocante. Aliás, chegou até a ser barrado pela censura, por causa das cenas em que uma batata frita penetra uma rosquinha e em seguida surge uma mulher um pouco agitada, nua hahaha. Imperdível!



Alphaville - Sounds Like a Melody

Devo confessar que não conhecia nada de Alphaville, além de Big in Japan, até um mês atrás, quando uma amiga apresentou esta música, à qual me viciei em menos de 30 segundos.

Alphaville é um grupo alemão de new wave, fez um PUTA sucesso com seu primeiro CD, Forever Young e depois baixou a bola, ao menos no mainstream.

O tema desta música me lembra muito videogame, a agilidade do sintetizador e o clima que ele cria. Um vídeo simples que, a partir da metade, fica estranho e ganha meu coração (owwwnnnn *-*)



Culture Club - Karma Chameleon

Conheci o Culture Club no ensino médio, mais especificamente nas aulas de filosofia com o Kaká Altheman. A gente passava aulas assistindo os clipes dele, pode isso, Arnaldo? Era maravilhoso!

O Culture Club fez parte de um "mini-movimento" musical e estético chamado New Romanticism, que revivia o imaginário punk, a música pop eletrônica, o visual extravagante. A banda se desfez em meados de 80 por causa dos problemas de Boy George com as drogas e depois se refez sem ele. Uma pena, Culture Club sem ele é nada.

O clipe de Karma Chameleon foi dirigido por Steve Barron, que também trabalhou com A-Ha e Dire Straits. Gosto da frase que Boy George usa para explicar a canção:

"The song is about the terrible fear of alienation that people have, the fear of standing up for one thing. It's about trying to suck up to everybody. Basically, if you aren't true, if you don't act like you feel, then you get Karma-justice, that's nature's way of paying you back".

Eis, então:



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É isso, deixei de citar zilhões de grupos, não coloquei nenhum brasileiro. Não é preconceito, é que não tenho clipe favorito dos grupos daqui e desta época. Curtiu? Tem algum clipe que gostaria de me indicar? Qual o seu favorito desta década? Coloque aí nos comentários e vamos complementando o post e relembrando o passado.

;)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Música Contemporânea e a Rótulomania

Gostaria de começar esse texto provocando leitores à responderem uma pergunta: Qual é o movimento musical de hoje? Para uma parte, a resposta será simples. Estará na ponta da língua. Porém, pode ter certeza que serão várias respostas. Não existirá um consenso. Ainda mais se focarmos no Brasil. Qual é a tendência por aqui hoje? Sertanejo Universitário? Pagode? Bandas coloridas? Emocore? Ainda temos o movimento Indie que vem crescendo de forma positiva, mas que corre sérios riscos de nos proporcionar um oportunismo artístico, onde se perde a originalidade.

Is This It dos Strokes: expoente da cena Indie

Vejam, então, que a resposta é mais complicada do que parece. Mas o mais interessante é que todas as variáveis possíveis são de total compreensão. Elas não passam de rótulos de uma época que ainda não acabou. Vivemos na rótulomania. Tudo isso é contemporâneo. É a nossa época, é o nosso momento. Para explicar melhor, uma aula de história.

Todos nós que passamos pelo ensino básico escolar, sempre escutamos falar de épocas literárias como barroco, romantismo, classicismo, renascimento, etc. Isso na verdade são épocas ligadas totalmente à arte, extendendo-se para arquitetura, pinturas. Tudo isso são movimentos que surgiram no passado. Porém, Leonardo Da Vinci não sabia que era um renascentista. Goethe não sabia que era um romântico. Não. Quem os definiu dessa forma, foi a história. Suas obras, seus pensamentos, foram gerados de acordo com sua época e conforme o momento que a sociedade se encontrava. Se eu disse que isso ocorreu com a música, será um absurdo?

O foco será na música moderna. Pegaremos o Jazz como ponto de partida, que serviu de base para a Bossa Nova. Logo veio o Blues com as guitarras eletrônicas. Então a sociedade começou a querer arriscar mais, falar mais, expressar-se. Veio o Rock n' Roll com sua juventude inquieta. E o Punk, em um momento onde os jovens medíocres queriam ter voz política e afrontar o poder. Aí veio a repressão e com a Guerra Fria o fim dos tempos era quase iminente. Apareceu o Heavy Metal com suas canções apocalípticas. Ou seja, tudo dependendo do seu momento histórico.

The Clash. O Punk no seu ápice

Atualmente, não podemos definir o momento histórico da música. Não é o emo, não foi o new metal, não são os estilos universitários, nem o axé. Não será um estilo que definirá o movimento, mas sim o seu contexto social. Pessoalmente, eu aposto na Indie Music, que busca dar identidade e autonomia aos artistas. É um Punk despretencioso, eu diria. Porém, quem vai dizer para nós qual foi o movimento musical dessa primeira década, talvez sejam os historiadores e especialistas, num futuro próximo ou nem tanto.

A Comédia de Situação



Antes de mais nada, o fato indiscutível é que existem muitos problemas nas produções audiovisuais feitas para a televisão. O principal deles, obviamente, é o uso constante das mesmas fórmulas, subestimando a inteligência do espectador. O meu argumento é o seguinte: esse problema não pode ser associado exclusivamente ao formato ou as fórmulas em si, e sim a maneira como são utilizadas. Quando se coloca o assunto em análise, podemos ver que as fórmulas são produto da observação dos padrões de comportamento dentro de uma determinada classe de pessoas, ou seja, do que existe de comum na interação delas com o ambiente em que vivem. Dessa forma as séries de TV contam histórias com as quais muitas pessoas podem se identificar, por incluirem personagens e situações análogas aos que ela vêem, vivenciam ou idealizam em suas próprias vidas. O poder delas está concentrado nesse ponto, como no caso das novelas, pois praticamente todas as pessoas sentem fascínio em ver pedaços de si mesmas dentro de contextos estrangeiros. Mas as novelas são um caso particular. O assunto TV Aberta brasileira está em um patamar diferente, um tanto mais profundo do que uma simples questão de qualidade.


Nesse argumento, quero falar sobre a TV Paga.

O cenário é lastimável: Reality Shows se proliferaram e as séries de ficção estão em baixa. Formatos policiais, adolescente-conservadores e comédias de situação absolutamente ultrapassadas e repetitivas inundam toda a grade, produzindo um entretenimento vazio e condicionando o público a ter um senso crítico pobre. Não precisa ser assim, e nem sempre é assim. Em uma Série de TV, as situações podem ser apresentadas de maneira inteligente e analisadas racionalmente, levando o espectador a reflexões construtivas sobre si mesmo e a sociedade em que vive. Tudo depende da construção dos personagens e da qualidade do roteiro. Um dos pontos mais importantes é o Humor, e acima de tudo, saber fazer humor. O que a maioria das pessoas procura em programas da TV geralmente é o escape, algo que as faça relaxar e se libertar da tensão da rotina. Isso não quer dizer que elas procurem por entretenimento vazio, estúpido e sem significado. Eu pessoalmente só vejo qualidade no humor que desafia, quebra parâmetros e/ou distorce valores morais em prol da liberdade do pensamento. Temos muitos exemplos de grandes mentes no stand-up comedy, como George Carlin, Bill Hicks e o próprio Woody Allen, que conseguiu expressar mesmo na linguagem do Cinema o seu peculiar senso de humor cotidiano. É dentro dessa vertente que chego à recomendação que quero fazer ao meu caro leitor.

Community – A Salvação

Metahumor. Algo como “piadas sobre piadas”, ou o sarro tirado às próprias custas. Essa é a estratégia principal de Community, uma proposta honesta baseada no princípio de que nós não precisamos ser anestesiados, e sim incitados. Eu não vou fazer sinopse ou resenha sobre a série, porque considero bem melhor a forma como ela própria se apresenta ao espectador. Eu não preciso dizer que envolve um grupo de pessoas muito diferentes entre si que interagem em um contexto comum. Clássico. O seu principal diferencial está em um dos personagens: Abed Nadir. Abed é um excêntrico palestino-americano viciado em cultura pop que serve como uma conexão entre o público e os personagens. Em vez de “derrubar a quarta parede”, ele simplesmente abre uma “janela” para o espectador ao fazer constantes análises dos acontecimentos ao seu redor como se a sua “realidade” de fato fizesse parte de um seriado da TV, permitindo assim que possamos estar perfeitamente cientes das mensagens e ideias que serão transmitidas em cada episódio. A série também evita cair na mesmice experimentando continuamente com diversos formatos através de paródias em investidas ousadas e inusitadas. A rapidez, acidez e sofisticação do humor no roteiro permitem que o politicamente incorreto e o contra-cultural tenham o seu devido espaço, promovendo o desvirtuamento de conceitos conservadores, uma das mais valiosas ferramentas para se exercitar a nossa consciência de mundo e fugir do condicionamento geral por parte da propaganda que reina em toda a grande mídia. Não se deixe enganar: é sim possível rir e refletir ao mesmo tempo. Community está aí para quem quiser experimentar, e mesmo aqueles que não costumam assistir seriados podem abrir essa exceção.


Incluí acima o vídeo de uma sequência completa do final de um dos episódios. Espero que consiga ilustrar o que tentei descrever sobre os aspectos marcantes da série.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Da Estante - O Livro Negro de André Dahmer

Liguei a máquina do tempo e resolvi falar um livro de tirinhas lançado em 2007, mas que adquiri ano passado.
O curto livro de 110 páginas, contém obras do quadrinista cujo nome compõe o título do livro e foi lançado pela editora Desiderata. Pra quem não conhece, André Dahmer é o autor das tiras publicadas em seu site Malvados desde 2001. Baseando-se no cotidiano da sociedade, as tirinhas acabam tendo um cunho político, mas sua base está claramente nas relações humanas reativas às inserções da sociedade brasileira.

O humor (?) de Dahmer é ácido, trabalhando bastante com a ironia, o que as vezes fazem as pessoas confundirem isso com o pessimismo. O próprio Dahmer já disse em entrevistas, ele não se acha um pessimista. Talvez porque o maior pessimista é aquele que não vê problema em nada, principalmente ao seu redor.

O livro divide-se em partes, como romances distintos em um só livro. Destaque para "A Cabeça é a Ilha", "Emir Saad", e o curtíssimo, porém esclarecedor "União Brasileira dos Moralistas de Fachada". Por este último, podemos ver que Dahmer não se incomoda (com razão) de tratar de assuntos considerados tabus. Nem mesmo quando o assunto é ele mesmo. E quando se trata de suas memórias (que nem são seu ponto forte), acaba que o único pudor nas estórias é o humor.

O traço de André, pode parecer rústico e até desprentecioso em alguns casos. Fique tranquilo, pois isso é proposital. Ele é formado em Desenho Industrial, ou seja, técnica e estética o cara tem de sobra. Provavelmente para buscar sua identidade artística, ele deixou apenas alguns rastros conservadores. Talvez o seu traço contraste com a realidade que ele descreve, ou seja, desordenado.

Para iniciantes em quadrinhos de humor que lidam com assuntos mais amplos, a leitura pode ser complicada, mas com o tempo o intuito de causar reação do autor vai sendo revelado e acaba-se por perceber que as idéias de Dahmer, são as mais simples possíveis e completamente compreensíveis com a realidade. Por exemplo, a princípio Emir Saad pode parecer uma crítica aos governantes árabes truculentos que conhecemos através da história que nos é contada. Mas também é um alerta para uma sociedade que vive com medo ou como um governo manipula o seu povo sempre a seu favor. A cada leitura de Dahmer, tira-se uma nova conclusão.


Emir Saad, O Monstro de Zazanov

Acho que não preciso dizer que é uma literatura excelente, certo? É preciso estar com a mente aberta e pronto para se assustar em algumas horas. Mas tenha em mente que o objetivo de Dahmer nunca é atacar o lado pessoal do leitor, mas sim, de provoca-lo a pensar melhor sobre seu conceito de cidadão do mundo. E tudo que ele faz é expor a realidade na forma de desenho.

Uma dica pra quem não quer comprar o livro ainda é: leia os quadrinhos que estão no site. É um bom treinamento e talvez no fim, você compre o livro para prestigiar a obra sincera do autor. Mas comprando ou não, a leitura vale a pena. Diminuir sua alma é que não vai.

Quadrinhos dos Anos 10
Fonte das imagens: todas retiradas do site www.malvados.com.br

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"Anarchy In Egypt"

"Cenas de anarquia e caos no Egito"

Povo egípcio comemorando renúncia de Mubarak
 
Foram coisas que ouvi durante a cobertura de parte da imprensa, durante o início da demanda popular ocorrida no Egito. Apesar de estarem separadas, as palavras "anarquia" e "caos" continham um teor de preocupação por parte do emissor da notícia. Erroneamente.

As duas palavras estão ligadas, porém são totalmente diferentes. Ainda hoje, se tem uma visão distorcida do real significado de anarquia. "Esses anarquistas!". A vertente política da anarquia tornou-se um pejorativo de pessoas...caóticas. Vamos dissecar a palavra para entendermos melhor?

Anaraquia:

Do grego αναρχία (anarkhia), cujas raízes são: αν(α), an(a), "sem", e αρχ(ος), arkh(os), "governador, autoridade". (Fonte: Wikcionário http://pt.wiktionary.org/wiki/Anarquia)

Já o caos, tem muitas definições. Mas basicamente, o caos seria o nada, a ausência de fatos ordenados. Vem do grego χάος, que significa abismo tenebroso.

Ou seja, são duas palavras bem diferentes. Note que anarquia é basicamente "ausência de poder", quando o caos é "ausência de ordem". Sim, existe ordem na anarquia. Uma ordem clamada pelo povo, uma ordem que será escolhida após o caos.
Etimologia pessoal, tenham isso na ponta da língua. O significado das palavras. O pejorativo é perigoso, muito perigoso. As palavras estão aí por alguma razão e são ditas em certos casos por alguma razão. E uma frase de Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, deixa claro a importância de saber trabalhar as diferenças:

“Um dos traços fundamentais da inteligência é a capacidade de operar distinções”

Que a anarquia no Egito seja comemorada. Que ela se espalhe pelo mundo, pois ela é o passo ideal para a liberdade. Que a liberdade de escolher nosso destino seja o nosso destino.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Yojimbo e Algumas Kurosawices


O ano é 1860, a época do “isolamento” do Japão estava no fim. O clã Tokugawa estava perdendo o poder e a sociedade se voltava aos moldes do Império. Foram décadas de choque cultural entre o feudalismo japonês e o capitalismo ocidental, que estava ganhando espaço. Como diz um personagem de Yojimbo, já no começo do filme, é um momento em que “todos querem dinheiro fácil”.

É neste clima que entra Sanjuro Tsubaki, um samurai que trabalhou para a Realeza agora decaída. Sem destino, na cena mais tanto-faz que já vi, ele joga um galho para o alto e segue na direção onde a ponta dele aponta (pãã).

Ao chegar na cidade, Sanjuro a encontra dividida entre duas facções que lutam para a dominar: uma é controlada pelo mercador de saquê e liderada por Ushitora, a outra é controlada pelo mercador de seda e liderada por Seibei.

Brincando com os dois lados, ele ora oferece seus serviços para um, ora para outro, ora a nenhum, com a única intenção de fazer a cidade ferver ainda mais (e claro, ganhar uma graninha deles com favores e ameaças), para que ambos os lados se matem e a paz se restabeleça.


Sanjuro faz a linha samurai solitário, meio anti-herói, amoral, iconoclasta e manipulador: chega a dirigir o filme junto com Kurosawa, criando intrigas ao seu bel-prazer. Seu humor é cínico e há também certa dose de humanismo. Ele une o útil ao agradável.


O filme discute, entre outras coisas, o conflito dos valores:

feudalismo x capitalismo;
rural x urbano;
família x facção;
espada x arma de fogo;
honra x corrupção.

Vale a pena assistir, há muitas cenas memoráveis que misturam a luta de sabre e o famoso bang bang norte-americano, talvez representando esta dualidade entre o Japão feudal e o capitalismo ocidental, nada acidental, creio.

Se quiserem mais referências, Kill Bill, Os Selvagens da Noite, Por um Punhado de Dólares, O Último Matador, Star Wars e até mesmo Cidade de Deus possuem elementos e cenas inspiradas, direta ou indiretamente neste filme.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Cinema Atual e Pipocas


Cinema,
eu gosto, você gosta.
A humanidade gosta.
Tem gente que só gosta da pipoca...
Cinema, a sétima arte, do grego: κίνημα – kinema - "movimento"...
Antes de mais nada, devemos deixar isso bem claro:
O Cinema é uma arte!
Que começou por ali, quando as pinturas “viraram” fotografias e as fotografias “sentiram necessidade” de movimentar-se. (histórias que aparecerão por aqui com o decorrer do tempo).
Você gosta de cinema ou você gosta de arte?
Em uma rápida análise podemos verificar que o “cinema arte”, aquele lá do início, há tempos já não existe mais e, quando existe tem bilheterias e repercussão pífias.
O “cinema arte” é composto de ideais, de valores. O “cinema arte” é humano.
Hmm... “Mas Anderson, o intuito do cinema não é entreter o espectador?”
Sim, como toda a arte. Porém para isso não é necessário imbecilizar, desviar e porque não dizer, ofender a inteligência das pessoas.
Enlatados, pasteurizados, “sem sal”.
Todos esses termos descrevem muito bem os campeões de bilheteria dos últimos tempos, de um período do cinema onde o diretor deixou a arte um pouco de lado e passou a preocupar-se apenas com as rendas da bilheteria.
Tecnologia? Efeitos especiais e computação gráfica?
São ótimos recursos para engrandecer qualquer história. Mas há a necessidade de existir uma história (ou estória, enfim...)
Bons atores e boas atrizes tem sido coadjuvantes para rapazes e moças que tem qualidade duvidosa até em seus seriados para TV de origem ou no programa ao qual apresentam.
Roteiros?
A maioria deles ensina (ou doutrina?) que o crime compensa sim e que o cara “bacana”, o cidadão “ideal” é o paspalho, é o pateta, é o babaca...
Talvez, o que vemos nas telas hoje, seja reflexo direto da completa inversão de valores que temos na sociedade.
Mas ok, existem filmes que ainda hoje conseguem resgatar toda aquela história de valores que eu comentei lá no início. Porém, são as exceções. E, é exatamente aí que está o problema, pelo menos aos meus olhos...
Cinema, eu gosto, você gosta.
A humanidade gosta.
Tem gente que só gosta da pipoca...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Importância de Ser Coletivo


O blog não é só de cinema, nem só de política. Acho que definiria esse blog como também. Também sobre música, também sobre filosofia, também sobre o que cada um quiser escrever. É um blog que pretende explorar as fortes opiniões e percepções humanas. Por isso, acho interessante falar da mudança que ocorreu de uns dias pra cá.

Não sei se muitos sabem, mas o nome deste blog era Mel Agridoce. Como meu nome é Melchior, logo ele seria sobre as minhas percepções, minas visões de mundo. Ultimamente, andei lendo um livreto de Karl Marx, sobre a liberdade de imprensa. Em certo trecho, ele fala da percepção infantil, que é muito particular, centralisadora. A criança apenas enxerga o que é seu. Infelizmente, até hoje, muitas pessoas que já não crianças, adotam essa postura.

Ao me deparar com meus blogs, percebi que elas eram muito pessoais e em muitos casos, de proposta infantil. Não totalmente consciente, resolvi mudar o nome deste blog. Era um indício do que eu queria. Algo mais amplo e geral. Minha visão não é o suficiente para o mundo infinito da internet.

Após minha crítica de Cisne Negro, que teve uma boa recepção, resolvi então partir para um estágio maior. Convidei pessoas para ajudarem na contribuição das postagens. De forma livre, que fique claro. Não é aqui o propósito dar apenas coisas que estão em tendência. Sempre gostei de textos atemporais, críticos, que abrangem outras propostas. E quem melhor do que outros, para expandir a consciência?

É importante ser coletivo. Pois assim, crescemos e nos sentimos encorajados (diria até, desafiados) à correr atrás do conhecimento, tanto interno quanto externo. Como Marx disse em seu livro, liberdade de expressão é auto-conhecimento. Sem isso, não é liberdade e sim, apenas verborragia.

Para algo mais pessoal, porém enfatizando o coletivo, Alex Supertramp em seu derradeiro fim nos deixou a seguinte mensagem: "Felicidade só é real quando compartilhada". É isso que estou, e agora estamos, tentando fazer aqui. Compartilhar. Então, compartilhe conosco. Garanto que para todos, será gratificante.


Resenha - O Guerreiro Silencioso




Ultimamente tenho ganhado gosto por romances históricos. Experimentei há mais ou menos um ano alguns dos livros do Bernard Cornwell, e devo dizer: fui fisgado. Hoje em dia a temática da História medieval da Europa me fascina, e foi justamente esse fascínio que me levou a assistir a essa pérola meio-dinamarquesa, meio-britânica. O filme ganhou muito hype em 2010, devido a sua participação nos Festivais de Veneza e Toronto, e merece a atenção daqueles que prezam o Cinema bem executado.


Mads Mikkelsen, o ator de perfil macabro que interpretou o vilão do reboot da franquia 007 em 2006, protagoniza os 90 minutos congelantes desse tapa-na-cara visual. One-eye, como ele é chamado por ter um dos olhos costurados, é apresentado sujo, acorrentado e enjaulado. Apesar de sua percepção de profundidade defeituosa, One-eye é um guerreiro intrépido e praticamente invencível em sua frieza psicótica. “Sangue no olho” é uma ótima expressão para descreve-lo. Os eventos mostrados no início do filme representam uma espécie de “briga de galo” com seres humanos, em que prisioneiros cobertos de pinturas corporais célticas lutam até a morte pelas apostas de seus senhores. Nessas circunstâncias podemos conferir a força derradeira de One-eye, que mesmo amarrado pelo pescoço consegue vencer o duelo em favor do seu senhor.
Frequentemente trocado entre diferentes senhores, pois ninguém é capaz de mante-lo por muito tempo, One-eye é passado pra frente. Sua natureza brutal garante a alta rotatividade de seus “serviços”. Durante a passagem, ele consegue se libertar com a ajuda do garoto Are, que no grupo de seu antigo dono era encarregado de alimenta-lo. Os dois se tornam livres e formam um pacto silencioso. Pouco depois, eles encontram um grupo de cristãos em Cruzada (peregrinos viajando rumo ao que hoje é a Palestina, em busca de terra e tesouros). Para sobreviverem, juntam-se ao grupo e partem com eles em um barco. A Terra Santa, a terra prometida os aguardava. Jerusalem, o reino de Deus, que é deles por direito, direito adquirido por serem cristãos, por seguirem a cruz. Mas o desígnio do acaso discorda e não apoia a sua jornada. Uma forte neblina os engole durante a viagem, e eles acabam em uma terra sombria desconhecida, onde encontram o seu inexorável destino. Em nenhum momento vemos sinais claros da nacionalidade de nenhum dos personagens. Só se pode especular. O sangue é brilhante e jorra bruscamente. Não há slow motion. Não há trilha sonora: o silêncio acompanha a carnificina. O ponto mais forte do filme é, de longe, a estética. Cenários maravilhosos, figurino impecável e uma direção fria de Nicolas Refn. Pode-se dizer que o roteiro é limitado, mas somente para aqueles que estão acostumados ao cinema excessivamente comercial. Há pouquíssimos diálogos, e apenas alguns deles são esclarecedores em relação ao enredo. É possível que para aqueles que desconhecem o contexto histórico da Europa em 1000 dC o filme não faça o menor sentido. É preciso ter em mente a realidade da Idade das Trevas, o embate entre os cristãos e os pagãos, e também os constantes conflitos entre as diversas tribos e etnias que habitavam a região naquela época. O enredo precisa ser deduzido pelo que se vê, pensa e sabe. Ele não será explicado, mastigado e dado de bandeja por um narrador. Não há uma introdução que situe o espectador no contexto da história. O filme está lá, os acontecimentos são exibidos magistralmente, mas as conclusões finais ficam a cargo exclusivo do espectador. Os detalhes são importantes e o que é dito, embora seja pouco, tem muito significado. O filme é introspectivo e foge completamente do padrão do mainstream. Vale a pena ser conferido por sua indiscutivel beleza estética e, acima de tudo, por sua riqueza em simbolismos misteriosos.





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Resenha - O Vencedor


Antes de começar a crítica, é importante fazer uma comparação. Não faz muito tempo que decidi fazer críticas de filmes e algo, que talvez não seja novidade para os mais experientes, me chamou atenção. Minha primeira crítica de Cisne Negro inevitavelmente voltou-se para o lado visual do filme que realmente acaba roubando o brilho das atuações e do enredo. Neste O Vencedor (The Fighter), o foco é totalmente nas relações e nas atuações. É gratificante sentir essa diferença.

Enfim, vamos à crítica.

Não sou conhecedor da direção de David O. Russel (Huckabees, Três Reis) sendo esse o seu primeiro longa que assisto. O filme é baseado em fatos reais e tem como ponto de partida a história de Micky Ward (Mark Wahlberg), um boxeador "trampolim", que apenas serve para aumentar as vitórias no currículo de outros mais bem preparados e patrocinados. A razão para Micky continuar num ciclo vicioso de lutas fracassadas encontra-se, ironicamente, onde deveria ser bem cuidado: sua família. O meio-irmão do boxeador é Dicky Eklund (Christian Bale), um ex-boxeador que vive de uma queda que fez em Sugar Ray Leonard, famoso boxeador. Eklund, perdeu a luta, mas ficou famoso por derrubar um lutador consagrado. Em sua cidade, ele é chamado de "O Orgulho de Lowell". Porém, a carreira de Dicky foi curta e ele acabou se viciando em crack. Porém, ele é a maior inspiração de seu irmão "trampolim", que ama o esporte.

O filme é uma cine-biografia, porém David O Russell tenta aproximar-se o máximo que pode de um realismo, mas sem esquecer do drama. Para isso, ele insere dentro do drama, a construção de um documentário. É um tempero a mais na verossimilhança. Pelo que percebi, David O. Russell, também gosta de brincar com contradições, como a cena da limousine.

Mas o que fica mesmo são as atuações de todos os envolvidos. Sim, todos, até os mais coadjuvantes. Christian Bale está excepcional como o excêntrico Dicky e assusta, ao começarem os créditos que mostram o real Dicky, o quanto ele pegou dos traços. Não há Christian Bale no filme, há Dicky Eklund. Provavelmente e com justiça, levará a estatueta.

Até hoje, havia apenas assistido Amy Adams em comédias (Prenda-me Se For Capaz e Encantada) e sua beleza inocente e frágil. Mas aqui, ela é Charlotte. Uma mulher de força, que não se intimida nem por uma legião de conservadoras do Tea Party. Uma mulher que já passou por poucas e boas, mas que está disposta a mudar. E Amy convence.


Porém, a atuação de Melissa Leo como Alice, a mãe quase feudal de Micky e Dicky, é de roubar a cena em muitos momentos. Uma personagens que tem todos os motivos para ser odiada, de ser a vilã. Mas Melissa não nos permite e passa uma humanidade e quase inocência nas atitudes da mãe. Impossível odia-la, possível compreende-la.

Incrivelmente, não achei que um dia escreveria isso, mas todas as atuações conseguem se mostrar graças à Mark Wahlberg. Não sou fã de seu trabalho, mas dessa vez, Walhberg ganhou méritos. Assim como ele é o "trampolim" dos boxeadores, Wahlberg fez de Micky o trampolim de sua família. Ele apanha de todos, quase sem reclamar. E no final, é ele quem acaba por mostrar que temos que deixar de lado os defeitos, os males, as intenções, os egoísmos de lado e que só assim, tudo que todos desejam, seria alcançado. Tímido e humano, Micky é o catalisador de todo o enredo.

Algo que notei, que pode desviar um pouco a atenção do espectador, são as famigeradas e enjoativas cenas de luta. É algo que cansamos de ver em Rocky e seus filhos. Apenas uma tomada das lutas que achei interessante, quando Micky recebe uma sequência de golpes, porém não temos a intensidade da imagem. Impulsivamente, me descolei da cadeira nesta cena procurando, literalmente, os golpes, como uma vizinha curiosa com a desgraça alheia. A narração e as expressões de sua equipe, é que moldam a dor. Empatia.

É um filme justo. Respeita o espectador ao não melodramatizar uma história real, mas sabe utilizar do drama para instiga-lo a entender os acontecimentos. As atuações mereceram no mínimo as indicações e algumas delas, merecem o reconhecimento da academia. Mas essa ainda brinca de "trampolim" para o ultrapassado.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Resenha - Cisne Negro




Dirigido por Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho, O Lutador), Cisne Negro (Black Swan no original) é um longa que dispensa comentários quanto à sua beleza visual. Uma grande homenagem à arte do balé. Mas acima de tudo, um suspense que trata da dualidade reprimida, sendo pressionada a se expor por forças externas.

A história gira em torno de Nina Sayers (interpretada por Natalie Portman), uma bailarina que se encontra na "meia idade" da compania onde atua. Nina é uma garota de exemplo moral quase inquestionável. Segue as regras, esforça-se para ser perfeita, para ficar nos eixos. Para manter-se contundente, Nina conta com a ajuda de sua mãe, a ex-bailarina Erica (Barbara Hershey). Novidades estão para surgir na profissão de Nina: a compania está para lançar uma nova versão do clássico O Lago dos Cisnes e, devida aposentadoria da bailarina estrela Beth (Winona Ryder), abre-se uma vaga para uma nova estrela, que será a Rainha Cisne e terá de intepretar as gêmeas Odette e Odile. A expectativa aumenta, trazendo assim, a ansiedade para a jovem bailarina.

Com o começo das audiências para a escolha da Rainha Cisne, nos é exposta a principal trama do filme. Nina é metódica e racional. Seus movimentos não falham e são bem precisos. Não há erros para seus passos. Para interpretar o cisne branco, Odette, Nina é perfeita. Até sua personalidade é compatível com a da gêmea virginal. Porém, nas falas do diretor do espetáculo Thomas (Vincent Cassel), ele não procura apenas o cisne branco, mas também, o cisne negro. Sorrateiramente, nos é apresentada uma nova bailarina que chega à compania neste momento conturbado: Lily (Mila Kunis). Lily já de cara nos demonstra uma aura despreocupada e atrevida, o oposto de Nina.

Nos primeiros minutos do filme, conseguimos identificar que Nina esforça-se de forma sacrificante para manter-se na linha. A pressão da mãe, por querer que a filha torne-se o que ela não foi; a bulimia para manter o "corpo de bailarina", a repressão pelo desejo de se apaixonar pelo professor e crises de coceira. Enfim, Nina está a ponto de explodir. Ela tenta esconder todos esses contratempos, mas eles sempre vêm à tona quando Nina defronta-se com os inúmeros espelhos que povoam a todo tempo os cenários do filme.


Naturalmente, Nina consegue o papel da Rainha Cisne, mas Thomas a alerta de que se ela não conseguir incorporar Odile, a gêmea oposta, Nina será substituída. A pressão cai em seu frágil corpo novamente e só aumenta quando Lily dá a entender que deseja o papel e não medirá esforços para derrubar Nina. Mas a ironia ocorre por Lily ser exatamente o que a Rainha Cisne precisa ser para ratificar completamente o papel de estrela do espetáculo. Da-se então, uma relação de amor e ódio, por parte de Nina. Bom frisar, que no começo do filme somos apresentados aos personagens e suas personalidades, mas em certo momento estamos totalmente no universo mental e perturbado de Nina e passamos a encarar os personagens como ela está enxergando.

Ao mesmo tempo que Nina está sendo pressionada agressivamente à mudar sua postura para interpretar Odile, ela sofre a superproteção de sua mãe e é aí que os conflitos psicológicos começam a ocorrer com Nina. Muito disso deve-se à câmera claustrofóbica que Darren aplicou, dando closes fechados e desesperados na face de Nina, dando a entender o tamanho da pressão em um corpo tão pequeno e fraco. Para alcançar o ápice do seu sonho, Nina precisa deixar de ser quem ela é.

O filme flerta com o clássico e o moderno. Nina é a representação do clássico e Lily, do moderno. O uso de drogas, as festas exageradas, a tatuagem representam a atual geração que é apelativa, ao mesmo tempo sedutora e leviana. Tudo que Odile, o cisne negro, é.

Mas o cisne negro de Nina, está preso por uma fina camada de vidro, que ela não consegue quebrar. Assim, no clímax do filme, com a quebra do grande espelho, é onde o lado reprimido de Nina liberta-se e possui a jovem bailarina. A reação extrema às provocações externas.

Um excelente filme, onde os aspectos visuais superam a narrativa, o que não significa que a mesma seja ruim, mas com certeza fica atrás do aspecto geral. Aronofsky prova mais uma vez que é um diretor geral, onde utiliza-se de todas as técnicas possíveis para se realizar um bom longa e, dependendo do contexto, sabe valorizar o real aspecto e enaltece-lo.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Resenha - Desista! E Outras Histórias de Franz Kafka


Desista! é uma HQ que tem como base de roteiro, pequenos contos de escritor Franz Kafka (Metamorfose). Os desenhos ficam por conta de Peter Kuper (Spy vs. Spy, World War 3 ambos sem lançamento na terra do vôlei, digo, futebol). Foi lançado pela Conrad em 2008 (a obra foi realizada em 95) e apenas chamou-me atenção por ter relação com Franz Kafka e HQ.


Não sou conhecedor de ambos os traços de Peter Kuper e a narrativa de Franz Kafka. Mas já digo que a pequena obra (70 páginas), vale a pena. As histórias de Kafka, são perfeitamente não datadas, tanto que na época em que seus contos (todos póstumos) foram publicados, o tcheco foi várias vezes tachado de alienado. A HQ contém 9 histórias retiradas de compilações e com textos integrais. Destaque para as histórias Desista!, O Abutre, A Ponte e O Timoneiro. Para quem não está acostumado com leituras mais intrincadas, pode se confundir com os textos de Kafka, tendo em vista que a própria tradução dos textos, é algo de longa discussão entre os especialistas em leitura kafkiana.



O traço de Kuper é incrivelmente envolvente. Nota-se uma mistura de abstração com toques comuns de padrões de quadrinhos. Kuper consegue utilizar do próprio ambiente de um "enquadramento" para dar justaposição à uma página, o que faz a leitura fluir sem problemas. Aliás, a justaposição da obra, são os pontos fortes. Kuper pareceu não deixar os famosos quadros se adaptarem aos desenhos, mas fez o caminho contrário. O enquadramento parece ser obrigado a moldar-se com o traço. Seu traço quase chargista, flerta tranquilamente com o surrealismo, também implícito na escrita de Kafka.


Sobre o trato da Conrad com a obra, há pontos positivos e negativos. É quase um formatinho, mas com material consistente. No final, tem-se uma página inteira com referência das obras de Kafka e seus títulos originais, o que raramente acontece de forma clara em muitas publicações.

Desista! é um prato cheio para quem gosta de experimentalismo em quadrinhos, pois foge do lugar comum e dá um nova referência para outras leituras de HQ's.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Mídia, Hipocrisia, Ética e o Acriticismo Contemporâneo

Primeiro de tudo, quero deixar claro que este texto não tem como princípio a defesa de valores sócio-ideológicos. Não é um manifesto comunista ou esquerdista. No máximo. pode ser considerado um manifesto jornalístico. Então, tentem entender a essência real da informação.

Estamos todos acompanhando a revolução que está ocorrendo no Egito. Alguns acham a situação horrível, mas temos que entender que é o povo quem está falando contra a opressão de uma ditadura. Se muitos estão morrendo, podem apostar que as mortes poderiam se evitadas se este mesmo governo, escutasse o seu povo. O que claramente, não é a função daquela ditadura.
Quero focar na palavra ditadura. Eu, uma pessoa que ainda não exerce a função de um jornalista e dependo ainda muito do que a mídia me oferece, desconhecia que nesses países do oriente, ainda existiam ditaduras. E aposto que muitos de vocês que acompanham a grande mídia, também desconheciam esse fato. Enquanto algumas ditaduras estão sempre nos holofotes, como Cuba e Venezuela, outras estão omitidas. E por que? Não é toda ditadura um atentado aos direitos humanos e à liberdade? Não deveria toda ditadura ser combatida e denunciada mundo afora? Por quais motivos, então, os governos da Tunísia e Egito, eram silenciosos, se depois dos movimentos populares, apareceram como ditaduras?


Bom, com esta duvida na minha cabeça, tentei chegar à uma resposta para essa pequena falha da imprensa brasileira. Grande surpresa a minha, quando na própria grande mídia, encontrei a resposta, quando vi o discurso do presidente dos E.U.A, Barack Obama, dizer que apesar dos conflitos, não retiraria o investimento de bilhões que os americanos injetavam na ditadura do Egito. O mesmo governo que espanca Fidel Castro e Hugo Chavez com seus discursos de liberdade, é o mesmo que investe em um governo ditatorial.
Como sabemos, a maior emissora pública do nosso país, recebe capital direto de empresas da América do Norte e então, fica claro o seu posicionamento diante os acontecimentos mundiais.
Fazendo esta análise, podemos chegar à conclusão de que os grandes alardes quanto aos regimes de Cuba e Venezuela, não passam de velhas perseguições políticas da época da Guerra Fria. Pelo simples fato dos dois governos serem de esquerda, há uma fome de destruição e manchação de imagem. Novamente, isto não é uma defesa à estes governos que também praticam atos pouco morais, segundo as informações que temos. Mas e agora? Como podemos aceitar as informações da grande mídia que sempre demoniza Castro e Chávez, mas ao mesmo tempo endossa outros governos tanto quanto ou mais cruéis que os governos latinos?


É claro que existem os interesses econômicos e as cartilhas de cada órgão de imprensa, mas isso deveria superar o papel do jornalista de informar, denunciar e opinar diante dos fatos? E quanto a responsabilidade ética com o público medíocre (sem pejorativos, por favor)?
Para mim, no mínimo isso causaria uma certa desconfiança com o emissor da notícia. Bom, mas isso eu já tenho com a grande mídia faz tempo. Também não estou dizendo que não se deve noticiar o acontecido, mas não quer dizer que devemos valorizar totalmente o que se diz. Dizer que o Egito está um caos, não basta. Era preciso, como jornalista, explicar exatamente o que acontece e acompanhar as truculências que foram cometidas àquele povo. Mas vão me dizer, que esse é o papel da impressa egípcia. Ok, então, que tal a imprensa brasileira parar de cobrir os "atentados à liberdade" nos países latinos?


Para terminar, gostaria de dizer que está em nossas mãos manter uma postura ética contundente perante o que nos é dado. O acriticismo vem crescendo conforme o passar dos anos, estamos opinando menos, valorizando nossos interesses infantis cada vez mais. E isso é exatamente o que os donos do mundo querem de vocês. A não ser que você sinta-se seduzido por uma cadeira no topo do mundo, comece a ser mais crítico e não tenha medo de desagradar.

Por hoje é isso, obrigado por lerem.
Até a próxima!