segunda-feira, 21 de março de 2011

Chipmusic - Trocando uma guitarra por um Game Boy

Esse post é uma homenagem à todos que entendem a arte que há por trás dos videogames e como eles moldaram uma geração inteira.

Pra iniciar este post, tive de recorrer para um artifício que ultimamente tenho evitado ao máximo: memória emocional. Mas seria inevitável neste caso. Seria inevitável lembrar da década de 90, quando ganhei misteriosamente e sem entender muito bem um novo mini-game. Mas aquele era diferente. Maior que o normal, pesado até. Entrada para quatro pilhas. Muito diferente daqueles jogos que iam apenas uma daquelas baterias redondinhas (elas ainda existem?). Porém, quando eu liguei aquele pequeno console, posso dizer que muita coisa mudou. Ok, não era super colorido como meu SNES (Super Nintendo), mas tinha algo mágico nele. Eu poderia levar para onde eu quiser! Sim, estou falando do meu Game Boy e sua primeira versão.

Primeira versão do Game Boy
Na época eu não tinha muita habilidade e passávamos por dificuldades financeiras. Não tinha muitos cartuchos para minha diversão. Porém, eu adorava mesmo aquele pequeno trambolho. Fez parte da minha infância, adolescência e também atualmente. Queriam o que? Eu sou da geração eletrônica! Um detalhe importante, que ficou cravado na minha inconsciência, foram as musicas dos jogos. Aquele som único que, apesar das suas limitações, produziam melodias bem contagiantes. Algumas delas, chegavam a ser cantaroladas. Hoje em dia, quem (dessa geração) não sente um prazer ao arriscar imitar o tema do Mario? Ou aquela introdução épica de Pokémon? Ou quem não sente um arrepio ao escutar toda o soturnismo da trilha sonora de Metroid? Enquanto alguns mais velhos lembram com carinho de cantigas de escola, nós adoramos fazer o baixo das fases de subterrâneas de Mario Bros. (durudurudurum).



Essa geração cresceu. Hoje estamos entre os 20 e os 30. Muitos já se afastaram desse mundo, talvez pela pressão de uma postura mais madura e adulta. Outros, acharam nesse meio um modo de se expressar, de fazer arte. É aqui que entra o cenário atual musical. Você sabia que aquelas musiquinhas que nos remetem aos velhos tempos, hoje são gêneros musicais? Estou falando de chiptunes, nintendocore, chipmusic, etc. Alguns caras que cresceram no mundo dos 8-bits (aqueles jogos velhos onde os pixels eram aparentes), acharam um modo de modificarem seus Game Boys e agora fazem belas melodias que remetem ao som daquela época. Mas engana-se quem pensa que isso é uma brincadeirinha normal. Os realizadores desse tipo de som entendem de música e dão duro para a construção de sua arte. E não é brincadeira quando digo que eles realmente utilizam os portáteis para construção do som!


Nullsleep, um dos mais famosos chiptuners

Pixelh8, que também é um educador musical

Esses "malucos" graças a internet, conseguiram se juntar e são muito unidos, criando comunidades virtuais para divulgação de seus trabalhos. É muito interessante que eles distribuem muitas de suas canções e até alguns álbuns gratuitamente. Um dos mais famosos locais para esse compartilhamento é o 8bitpeoples. Existem artistas de todo o mundo, inclusive do Brasil. É um bom local para descobrir mais sobre esse estilo musical que a cada ano cresce mais e vai ganhando espaço. Existe até um festival próprio para os chiptuners: o Blip Festival. No Brasil a cena ainda é relativamente tímida se compararmos com outros países, porém, seu crescimento é notável. Na mesma linha do 8bitpeoples, temos o coletivo Chippanze que funciona da mesma maneira, porém com os artistas brasileiros do meio. Tivemos alguns festivais pontuais como o 8bit Game People que rolou durante o FILE Hipersonica 2009 (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica) trazendo nomes internacionais de peso como SabrepulseCovox e Bitshifter. Claro que haviam artistas nacionais como Pulselooper, um dos integrantes do Chippanze.

Pulselooper: chiptuner do Brasil

O hoje a chipmusic invade até os cinemas e os games atuais. Quem assistiu Scott Pilgrim Vs. The World sabe do que estou falando. O filme é baseado na HQ de Brian O'Malley, que faz uma homenagem incrível aos games. Fora as referências visuais videogamisticas, para aumentar essa atmosfera, o filme recorreu também para a chipmusic em algumas cenas. Acompanhando o lançamento do longa, saiu também para PS3 e Xbox 360 o game homônimo ao filme. Se os gráficos e a jogabilidade remetem aos famosos beat'em ups dos anos 90 (Final Fight, Streets of Rage), os desenvolvedores recorreram para a banda Anamanaguchi para a realização da trilha sonora do game (trilha sonora para a construção desse post).

Anamanaguchi e sua trilha para o jogo Scott Pilgrim Vs The World

A chipmusic realmente é um presente daqueles que só o acaso e o tempo podem proporcionar ao mundo. É surpreendente notar como uma geração apaixonada utilizou de algo teoricamente "obsoleto" para realizar uma arte inigualável. É compreensível que muitos não consigam apreciar esse movimento por não serem filhos dessa geração gamer. Talvez por isso a chipmusic ainda tem ares underground, pois seu público é (ainda) muito focado. Mas quem sabe em breve o reconhecimento como movimento musical seja entregue à essa geração apaixonado pelos 8-bits?

2 comentários:

  1. Paguei um pau danado pra este post! Não tenho nem o que comentar.

    Mas tenho duas coisas pra compartilhar com os leitores:

    1) Existe música mais minimalista ainda. Tem um cara chamado Tristan Perich que faz música 1-bit: http://www.youtube.com/watch?v=Yh6-X9Vs_vk

    2) Há uma série interessante de regravações de músicas famosas em 8 bit, como Nirvana, Ramones, Michael Jackson, AC/DC, etc: http://www.youtube.com/watch?v=GslLaHl6YNU

    Valeu!

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  2. Caramba Rafa! Tristan Perich realmente é incrível! Mesmo sem as batidas, ficou muito bonita a melodia. Recomendadíssimo. Ah, existe também um álbum que é inteiro dedicado ao Kraftwerk (o Caos da música eletrônica) feito por artistas 8-bits: http://www.youtube.com/watch?v=5mdTwdo5mZo

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