segunda-feira, 14 de março de 2011

O Cinema Francês Hoje (e a adorável Amelie)




Quando pensamos em cinema francês, rapidamente nossos pensamentos nos transportam para a Nouvelle Vague, grande movimento e principal expoente da 7ª arte na França, sem esquecer é claro de toda a escola vanguardista da década de 1920 e do realismo poético das décadas de 30 e 40.
Hoje os tempos são outros e a situação é um tanto quanto diferente.
O cinema francês teve (e ainda tem) papel importantíssimo na tradução do que a própria palavra "cinema" quer dizer. Vale lembrar que os próprios irmãos Lumiére eram franceses.
Podemos notar que o cinema francês no quesito produção, porta-se muito bem no momento e já há alguns anos.
Um país que ocupa aproximadamente 40% do mercado local pode orgulhar-se pois em outros países, usando
como exemplo o Brasil, que, dificilmente consegue abarcar mais de 10% do mercado, ficando sempre atrás das produções estrangeiras.
Mesmo assim, alguns acreditam que a produção francesa tem graves problemas, principalmente quando se pensa no futuro.
O cinema francês traz consigo um forte problema de concentração de produção. Fala-se que a cada 20 filmes de sucesso 1 é originário de uma produtora independente.
Hoje praticamente toda a produção francesa depende da associação com as redes de TV.
O principal "problema" enfrentado é que já nota-se um certo grau de "preferência" das TV's quanto ao tipo de filme que será produzido.
Em outras palavras: As redes de TV tem mostrado interesse em grandes produções, com elenco conhecido e roteiros de grande apelo comercial.
O cinema "diferencial", aquele que não se preocupa em apenas divertir ,que sempre foi o grande atrativo do cinema produzido na França está ficando cada vez mais difícil de produzir-se.
Ou seja, mesmo no interior de uma situação privilegiada como a do cinema francês, a grande briga é pelo financiamento do filme dito "de arte", sem o qual nenhuma cinematografia funciona, progride ou se justifica.

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Seguindo na linha Cinema Francês, deixo aqui a resenha e a dica de um filme recente e bastante comentado, mas nem por isso menos importante: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain.

Começo dizendo a máxima: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain não pode ser considerado um filme comum. É gratificante assistir um filme bem equilibrado em diversos aspectos, pricipalmente bem equilibrado entre a comédia e o drama. Simples e encantador.
Dirigido por Jean-Pierre Jeunet e produzido na França, conta a história de Amelie Poulain.
Desde a sua infância, Amelie sempre foi reclusa da maioria das pessoas, o que num primeiro momento, já torna sua "chegada" ao mundo, conturbada demais.
É órfã de mãe que morrera em circunstâncias não muito bem esclarecidas. Como animal de estimação tinha um peixe, que, talvez retratasse as perturbações futuras de sua dona pois tinha crises e eventualmente tentava o suicídio. Por fim, seu pai, que era médico, dificilmente aproximou-se da filha, talvez por falta de tempo, talvez por falta de afeto, enfim, geralmente aproximava-se da filha apenas para examiná-la como um paciente qualquer.
Com um histórico familiar como esse não seria de se esperar que a menina vivesse isolada, sem amigos para brincar ou divertir-se como uma criança comum.
Amelie cresce. Uma bela moça que trabalha como garçonete e mora sozinha em um apartamento em Paris. Um dia encontra em sua residência uma caixa de "segredos" pertencente a um antigo morador. Amelie então decide encontrar o dono do artefato. Após o sucesso da empreitada e comovida com a reação do dono, Amelie começa a repensar a sua vida e acaba por descobrir que lhe falta o combustível para a sua verdadeira felicidade: um grande e generoso amor.
Estéticamente o filme é um deleite visual: A fotografia é lindíssima. Muito bem trabalhada, forte em detalhes, muito colorida e de um "amarelo" envolvente. Movimentos de câmera incomuns na maioria das vezes e um tratamento digital refinado. Talvez seja o ponto alto do filme e tecnicamente muitos consideram a parte que merece mais méritos em toda a produção.
Difícil também não deixar de encantar-se pela primorosa trilha sonora composta por Yann Tiersen. Acredito que Yan envolveu-se de tal forma com o projeto que conseguiu transmitir fielmente o clima e a sensação que Jean Pierre gostaria de transmitir. Com um “sem fim” de intrumentos (banjo, violão, acordeon, piano, harpa, mandolin entre outros...) Yan Tiersen já consagrou a trilha do filme a um clássico absoluto.
O roteiro apesar de simplista e não trazer nada inovador tem muita qualidade e foi muito bem escrito. Acredito ser esse o ponto forte do filme, porém raramente alguém comenta isso, julgando-o como "apenas mais um filme" com fotografia bonita. A forma com que Jean-Pierre Jeunet nos conduz para dentro da vida de Amelie com a belíssima atuação de Audrey Tautou é forte, é intensa.
O padrão utilizado pelo diretor mesclando drama e comédia, amparado por um narrador ao estilo "documentário expositivo" dá a tônica do interesse do público pelo filme. Torna o filme leve, fato que não é muito comum em um filme que tem a carga dramática que o Fabuloso Destino de Amelie Poulain carrega em suas entrelinhas. A narração acaba por prender a atenção do público pois geralmente aparece de forma rápida e repleta de detalhes que ajudam a construir o enredo, principalmente no que diz respeito ao caráter da personagem principal.
O público fica na "ânsia" de saber que rumo tomará a vida da "comum" Amelie que de garotinha tímida e reclusa torna-se o centro de uma cadeia de boas ações para todos que a rodeiam. E, em contra partida busca sem saber direito quem ou o que preencherá o vazio que sente em relação aos seus sentimentos. Fato é que Amelie consegue driblar a maioria dos seus problemas nessa quase "cruzada" pela felicidade. Sua e dos outros.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme sobre pessoas comuns que desejam realizar seus sonhos.


O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Titulo original: (Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain)
País: França (2001)
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Elenco: Audrey Tautou , Mathieu Kassovitz , Rufus , Yolande Moreau , Jamel Debbouze
Duração: 120 min
Gênero: Drama / Comédia


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