sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


E a "maldição" da boa sequência se concretiza. Aplausos, por favor.

Quando fiquei sabendo do tal filme Tropa de Elite por boca a boca, fiquei irritado. Pensei comigo "é a resposta do estado para Cidade de Deus". O filme que mostraria que bandido bom, é bandido morto. Um filme "stalinista". Privei-em de assisti-lo por muito tempo, com medo de ser influenciado por qualquer retórica que havia ali. Porém, certo dia, foi inevitável. E não é que gostei do filme? Ele deixava claro que era a visão de um policial condicionado e que apenas pratica o que lhe foi imposto. Justo. Era um filme justo. E além disso, um filme muito bom e único. Ao anunciarem a sequência, temi que o resultado poderia ser ruim, quebrando o ritmo de bons sucessores como O Império Contra-Ataca, X-Men 2, Homem-Aranha 2, O Cavaleiro das Trevas. Achava que não haveria o que contar mais, sem parecer propaganda policial.

Pois bem, três anos depois, chega aos cinemas Tropa de Elite 2. E que bom que meus medos foram limados. Alguns pontos precisam de destaque para entendermos a sequência:

- O roteiro é totalmente original, sem ter base um livro, como foi no caso de Tropa de Elite. Isso é muito importante no processo de criação, pois há uma certa liberdade de idéias, sem desrespeitar o antecessor.

- Devido ao sucesso do primeiro filme, a equipe trouxe autonomia artística e comunicativa para este filme. Não que eu acredite que tenha sido a intenção desde o primeiro, mas há uma enorme diferença aqui: não precisou-se agradar esse ou aquele. Como Padilha disse "fiz o filme que queria fazer".

Pronto. Cientes disso, vamos à minha opinião do filme.

O começo do filme nos apresenta uma situação fatídica e tensa. Mas também clichê. Não tiremos o mérito daqui. Tropa de Elite é um filme de caráter popular (pop) e PRECISA utilizar-se de tais técnicas do gênero. Você precisa conversar com o público. A narração em off do agora, Coronel Nascimento (Wagner Moura novamente e novamente excepcional), até brinca com o clichê utilizado em certo momento. Está claro, como da outra vez, que estamos dentro da mente militar do agente do BOPE. Logo na primeira cena, observamos um Nascimento envelhecido, mas mais especificamente, cansado. Olheiras enormes ocupam a região dos olhos. A cor pálida da pele também denuncia, que o momento não é dos melhores na vida. Ponto para a maquiagem.

A história gira em torno das milícias que se formaram no Rio de Janeiro, após Nascimento ser remanejado de cargo, ocupando a cadeira de Sub Secretário de Segurança do Rio. Ele aperta o cerco aos traficantes, aumentando o armamento de sua ex-entidade. Isso não terminou com o crime gerado nas favelas. Policiais corruptos enxergam outro meio de gerar lucro através da corrupção. E quem poderá impedi-los? Claro, que o Estado é responsável por seus empregados, mas o que fazer, quando o próprio Estado, se beneficia da corrupção praticada pelos milicianos? É uma ficção. Mas o que seria da ficção sem a realidade? É através de nossas sensações reais, que criamos a ficção. Padilha apropria-se da realidade para criar a ficção. A realidade está lá, com os policiais, com os políticos, com as empresas, com as pessoas. E com os justos e os injustos. A ficção é o que destrói a realidade. Não foi diferente com Tropa 2.

É com os embates dos personagens que a história se desenvolve. TODOS os personagens são peças chave para a conclusão. Desde o filho de Nascimento, até o governador do Rio de Janeiro. Nascimento é aquele que atraí os conflitos pra si. Como ele mesmo diz, ele gosta da guerra. É um homem de ações. Porém antes, ele tinha uma visão de um lado da guerra. Neste filme, ele se depara com um lado mais escondido. Ou ele é tragado ou ele bate de frente.

No final, decodifiquei que os acontecimentos do filme não ocorreriam, não fossem os embates pessoais ali envolvidos. Quais as chances, da sua ex-esposa, casar-se com um esquerdista? Quais as chances, de um incorruptível do BOPE, chegar até uma cadeira da inteligência do governo? Padilha me mostrou que, hoje somos tão levados por questões pessoais, que são elas que determinam o fluxo dos acontecimentos. Apenas quando o problema invade nosso cotidiano, é que agimos. E na boa, sabemos que o mundo nem sempre foi assim, certo?

Tropa 2 é um filme de caráter popular. Padilha sabe conversar com o público medíocre (no sentido real e não pejorativo) e dar aquilo que eles querem. A cena em que Nascimento espanca o político corrupto, somos todos nós, que nos sentimos lesados por um Estado completamente ausente nas questões que são de suma importância para nossa sociedade, que estamos esmurrando-o. É a justiça, na sua forma mais crua. Tropa 2 é um filme justo.

Para terminar, mediante a justiça que o filme trabalha, somos colocados frente a frente com os problemas da nossa sociedade, com suas mazelas. Há uma certa esperança imposta ali, com o deputado que luta por justiça e com Nascimento vencendo o preconceito. Quando ultrapassarmos as diferenças, estaremos no caminho certo. Apenas unindo força popular, força intelectual e força física, o equilíbrio social será atingido. Pessoalmente concordo. A parte disso, Tropa 2 coloca os problemas na nossa fuça. Não há pra onde correr, nem se esconder. Quem calar, consentirá.

Veredito: Mel da melhor qualidade!

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